PANTANAL: PASSO DO LONTRA E RESERVA DO RIO NEGRO.

82 ANOS NO PANTANAL.

Rio Miranda. Rio Aquidauana. Rio Touro Morto.

INTRODUÇÃO.

Estamos indo para o Pantanal: Passo do Lontra Parque Hotel.

Posição geográfica: S 19º34`27“ e W 57º01`14“.

Esta é a rota tirada do Google Earth, de Ribeirão Preto até o Passo do Lontra, nele a distância mostrada é de 1.187 Km, tempo de viagem 14h36m. Pelas estradas: (São Paulo) SP 267 e SP-333, (Marechal Rondon) e no (Mato Grosso) MTS a BR-262, que segue de Três Lagoas até a divisa da Bolívia, em Corumbá.

A rota no GPS da S-10 está traçada, por ele serão 1.134 Km, é somente segui-lo e chegar lá. Não iremos direto, vamos pousar primeiro em Três Lagoas e depois em Anastácio X Aquidauana, para no outro dia descansados, desfrutarmos do Pantanal, e passaremos em uma fazenda ecológica, Fazenda São Francisco, para vermos como são as coisas.

Trem da Morte: Na Folha de S. Paulo, dia 15-05-2022, saiu uma história sobre a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Trem da Morte, entre Bauru e Corumbá (MS). A ferrovia, com 1.272 quilômetros.

Resolvi colocar essa reportagem da Folha, sobre a Histórica e importantíssima ferrovia, que ajudou muito a conquista da região sudoeste do Brasil.

Coloquei o traçado da Ferrovia, pois em nossa viagem agora para o Pantanal, seguirei praticamente o mesmo trajeto da estrada de ferro, incluindo que em Mato Grosso, muitas vezes cruzaremos com esta ferrovia.

Meus 82 anos no Pantanal, jamais esquecerei. Chegarei lá no dia do aniversário 16-04-2022 à tarde, na pousada. Será para mim uma viagem inesquecível, pelas alegrias imensas de ir, após 2 anos de pandemia da Covid-19.

Com essa idade, lá no fundo do coração senti uma grande tristeza, se por alguma causa, nunca mais poder voltar. Por esse motivo, sinto necessidade de escrever em detalhes essa minha ida para a comemoração de meu octogésimo segundo ano de vida, pois o futuro a Deus pertence.

No dia 13-04-2022, bem no início da noite, minha querida mulher, que já havia arranjado com muito esmero toda a grande traia de pesca, entrou na S-10 para verificar se os documentos da caminhonete, estavam em ordem.

Ela já no consultório teve alguma dúvida sobre os documentos, ligou para o despachante, a Lila funcionária de confiança dela não estava. Um funcionário a atendeu, dizendo que tudo certo sem problema, por esse motivo, quando ela viu, à noite, que não estava certo, ficamos apavorados.

Any entrou em casa, como é perita, pegou o computador e tomou consciência que não havia pago. Havia uma dívida de 6.350,00 reais. Era muito dinheiro, não poderia ser pago pelo banco, o imite destes pagamentos a noite é 5.000,00 reais.

Confesso que fiquei desorientado, há mais de 2 anos esperava essa ida ao Pantanal. Agora Any como faremos, perguntei? Ela depois que se acalmou, disse: Não tem problema, amanhã, carregamos e vamos, paramos em uma agência do Banco do Brasil e eu faço o pagamento.

Procurei manter a calma, contudo lá por dentro uma nuvem sombria navegava em minha mente. Ela e a irmã Paulinha, fizeram uns lanches para levarmos, colocaram bebidas para gelar, em fim agiram com a segurança que Any transmitiu. No outro dia já prontos para a viagem, fomos para o banco do Brasil. Ela entrou determinada no banco, eu fiquei dentro da caminhonete, um pouco angustiado. Não sei dizer se demorou, mas quando ela apareceu sorridente, com os recibos na mão, minha alegria foi imensa, achei que a Aninha minha mulher era o máximo, ela entrou, guardou tudo com os documentos e partimos, com a maior alegria do mundo.

DIA 14-04-2022 SAÍ DE RIBEIRÃO PRETO AS 11:00 E FUI DORMIR EM TRÊS LAGOAS NO HOTEL VILLA ROMANA PARK HOTEL TEL 67 3509 2900.

SÃO 480 KM PELAS ESTRADAS: SP-333 E SP-267 FAMOSA MARECHAL RONDOM.

Não tínhamos pressa nosso destino Três Lagoas, estava apenas a 476 Km, no trajeto pegaríamos ótimas estradas do estado de São Paulo.

Quando saímos do banco com tudo certo, fiquei em um estado de espírito, em alerta máxima, parecia que alguma coisa ainda poderia acontecer. Me concentrei muito, nem percebi ao descer a rua perto onde morei por mais de 35 anos, como se estivesse sonâmbulo, apenas prestando atenção no trânsito.

Chegamos no anel viário, o telefone alertou de um radar, 90Km/h, foi a primeira coisa que me lembro depois do Banco do Brasil. Pegamos a rodovia, logo o pedágio. O grito da Any, aqui é 40Km/h, segurei e passamos o pedágio. Incrível, mas é tudo que me lembro, da estrada até chegarmos à represa do Rio Tietê. Era quinta-feira santa, a estrada no trecho pista simples estava muito movimentada, eu ainda de alerta no espírito, somente via a estrada como um túnel a ser percorrido, com muito cuidado, pois algo ruim poderia acontecer.

Na represa azul do rio Tietê, minha mente se abriu, eu senti que estava indo para o Pantanal, meu sonho para o aniversário de ir pescar e aventurar pelos rios pantaneiros. É incrível, quando isso aconteceu, minha mulher, que me conhece de longa data disse: Finalmente acordou.

Eu e o rio Tietê temos muitas histórias, estive quando estudante em 1964, na casa do engenheiro chefe que construiu a hidroelétrica de Ibitinga, cuja represa eu estava vendo e tem o mesmo nome da usina.

Naveguei de lancha, muitos anos, pescando tucunaré, pela grande represa de Três Irmãos, a jusante desta, por sinal ela é o maior espelho d`água entre todas as represas do rio, na cidade de Pereira Barreto.

O tempo excelente, temperatura aos 27ºC, nenhum vento, a superfície da água era um espelho a refletir as nuvens cúmulos de bom tempo, havia gasto 2:00hs para rodar os 180 Km iniciais da grande viagem.

Como eu disse, esses quilômetros rodados, foram muito diferentes, pois não os senti, pareceu em minha mente, que saí do Banco do Brasil em Ribeirão e agora, de repente, como por mágica, estava atravessando a represa. Realmente, que eu me lembre, nunca havia passado por essa experiência. Precisamos tomar muito cuidado, para que o mesmo não aconteça no decorrer de nossas vidas. Chegar ao destino, sem lembrar do trajeto.

Esta visão colocou-me, graças a Deus, novamente em rota, estava indo para o Pantanal. A espontaneidade brotou nas atitudes, convidei Any para paramos em um posto logo depois da ponte, para tomarmos um café, e eu me posicionar no tempo e no espaço de minha sonhada viagem.

Realmente a grandiosidade dessa visão, não poderia ser diferente para eu me recuperar. Uma longa estrada para o destino. Águas azuis para animar com a pesca e aventuras. Um céu azul, coberto de cúmulos de bom tempo, para sonhar.

O posto à margem da represa tem uma posição geográfica especial, pois de sua varanda descortina-se ao longe toda a extensão da represa em uma visão maravilhosa. No momento, passava uma imensa barcaça, provavelmente vinda de Mato Grosso carregada de soja. Cada composição fluvial desta, carrega no mínimo a carga de 400 caminhões de soja. O objetivo, além de baratear o frete, descongestiona muito as precárias estradas do interior dos estados.

Os 25 Km deste posto que estávamos, até a rodovia Marechal Rondon, é muito movimentada pois essa estrada sai de Assis, fronteira do estado do Paraná, passando por Marília, cruza a rodovia Transbrasiliana, a Marechal Rondon e vai até Ribeirão Preto, podendo então pegar a rodovia Anhanguera, ou Washington Luiz e irem para o norte do Brasil.

A rodovia Marechal Rondon, é uma pista dupla maravilhosa, acredito ser uma das melhores estradas do Brasil. Ela caminha em direção a calha do rio Paraná, e respeitando as distâncias segue paralela ao importante Rio Tietê. Trafegar por essa estrada é tranquilidade, é colocar o piloto automático a 110 km/h, e ficar atendo aos radares e aos múltiplos pedágios que existem na rodovia. Tomar cuidado ao passar Araçatuba, tem 2 radares um perto do outro.

Sempre que passava por Araçatuba, parava na casa de meu primo, o Augusto, mas ultimamente, não tenho parado, ele e a esposa não andam bem de saúde, a visita é um peso para os dois.

Curtindo o prazer da viagem, chegamos no último quilômetro da famosa rodovia M. Rondon, termina no quilômetro 665 Km. Esso é, estávamos a esta distância da Praça da Sé, em São Paulo capital., o marco zero de todas as estradas paulistas. Deste ponto descortina-se um panorama extraordinário. A grande represa de Jupiá, no rio Paraná. Estamos saindo do estado de São Paulo e vendo o glorioso Mato Grosso do Sul.

São águas azuis vindas de toda região sudeste. Bem à frente, a barra do glorioso rio Sucuriu que nasce nas encostas sul da Serra do Camapuã, onde ao norte nasce o Rio Coxim. A poucos quilômetros a montante, desagua o paulistíssimo Rio Tietê. Este lugar, é histórico para todo o Brasil. Por esses rios passaram os bandeirantes que romperam o Tratado de Tordesilhas, e expandiram o país para o oeste.

Os bandeirantes paulistas, desciam o Rio Tietê, até o Rio Paraná, desciam este, até o Rio Sucuriu, onde subiam até encontrarem o Rio Coxim, e penetravam para o Pantanal, Poconé a terra do ouro.

Logo a jusante da barragem, está a abandonada ponte de ferro, da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que ajudou muito a colonização do oeste de São Paulo e todo Mato Grosso até Corumbá, divisa da Bolívia. Tempos de desbravamentos, tempos de heróis anônimos que fizeram a riqueza do país.

A tarde caia escurecida pela cobertura de nuvens, estratos cúmulos, quando atravessamos o Rio Paranazão, entrando em Mato Grosso do Sul. Sinto um orgulho imenso deste rio, quilômetros a baixo ele alimenta a Usina Sérgio Motta, e finalmente move as turbinas na maior UHE do mundo Itaipu, não tem maneira de passar por essa imensa corrente de águas e esquecer seus benefícios a todos no Brasil.

O Rio Paraná é formado por dois importantes rios: Rio Grande, que nasce em Minas Gerais e o Parnaíba, que nasce em Goiás, ambos possuem numerosas usinas hidroelétricas.

Chegamos em Mato Grosso do Sul, os grandes Tuiuiús nos deram as boas-vindas, são aves representativas do estado. Incrível a alegria que senti, depois da Pandemia, podemos voltar, fazer trilhas, estradas e navegar rios. A liberdade somente é muito valorizada, quando a perdemos!

Pernoitamos em Três Lagoas no Villa Romana Park Hotel, o que ele tem de especial é o restaurante muito bom. Por sinal ele fica na margem do início da rodovia BR-262, em frente a uma das grandes lojas da Havan. É incrível pensar que esta rodovia federal, sai deste ponto e termina no Porto Soares, na Bolívia.

O que eu fiquei impressionado nesta noite, foi o número de Tritrens que passaram pela rodovia, eram filas intermináveis destes grandes cavalo-mecânicos, com três carretas e um conjunto de nove eixos, que permite carregar até 70 toneladas de madeira de eucaliptos. Lá eles chamam de bitrenzão ou rodotrem.

A riqueza que pela estrada passa, é um orgulho para todos nós brasileiros. Esse trânsito de quantidade monumentais de madeira de eucalípto, eu observei ao norte de Belo Horizonte, filas de jamantas entulhadas de madeiram, rodam sem parar. O mesmo tive oportunidade de ver no estado do Rio Grande do Sul, no porto marítimo da cidade de Rio Grande (Fim Lagoa dos Patos). Eram trens, e caminhões, lotando grande navios de madeira para exportações. Uma riqueza incalculável, e inacreditável, nunca vi nenhuma menção a esse fato nos telejornais, ou nos jornais. Mas Cravolândia, assassinados aos montes aqui ou mesmo no exterior, a toda hora aparecem em todos meios de comunicação! Será que essa postura dos meios de comunicação, é por ignorância, por má intenção, ou querem que nós deixamos nosso país imenso e rico, para irmos para o pequeno Portugal, para sermos choveres de caminhão, ajudantes de pedreiros, ou USA colher laranja ou ser pedreiro, e as mulheres domésticas?

Acredito que nossos governantes, acreditam que quanto mais ignorantes somos, mais eles podem tomar conta do país, como se fosse a casa, ou a fazenda deles. Será que querem ser sempre, O Odorico Paraguaçu, o Prefeito corrupto de Sucupira, da novela, hoje tão atual a história novelesca, como sempre foi.

O asfalto, não é nada bom, ali estava vendo claramente o motivo, a pista precisa ser muitíssima bem-feita, para suportar um transido destas imensas carretas. Existe uma norma federal para o peso que cada pneu pode fazer no asfalto. Mas creio que as regras, não falam em quantas vezes por minuto esse peso pode ser colocado no asfalto. Outro fato relatado por um caminhoneiro responsável, esses tritrens é para carregarem 50 a 60 toneladas, mas em média carregam 100 toneladas, e não tem nenhuma fiscalização, que eu tenha visto. No Mato Grosso Sul, nem balanças ativas eu vi! É uma corrupção generalizada, os guardas sabem, e os políticos se aproveitam, e a ignorância de todos acham que levam vantagens, mas o Brasil tem pago um preço enorme por esse descalabro. A conta vai ficando para o próximo presidente, o próximo governador ou próximo prefeito, quando teremos cultura no mundo para dar um basta e salvarmos países e mesmo o mundo.

ESCLARECENDO: Três Lagoas, concentra as maiores áreas plantadas de eucalípto de Mato Grosso do Sul. Com 263.690 hectares. Em Ribas do Rio Pardo, existem 213,931 He. As florestas de eucalípto de Três Lagoas suprem a demanda das três unidades de celulose instaladas no município, tornando a cidade líder em produção de madeira e celulose. É a segunda área plantada de eucalípto do Brasil, somente perdendo para Minas Gerais.

O fato: No Brasil existe a maior concentração de plantações de eucalípto do MUNDO.

A fila de Tritrens era interminável, o mesmo fato eu presenciei, anos atrás quando estive no estado do Rio Grande do Sul

Quando viajei pelo norte de Minas Gerais, na região carvoeira de João Pinheiro, Porto Diamante, Lagoa Grande, entre outros, são as maiores plantações do Brasil.

O estado de São Paulo, há mais de 80 anos se preocupa com o eucalipto. Lembrado do passado: Quando menino, na década de 1940 a 60, os trens da famosa Ferrovia Mogiana, tinham suas locomotivas que eram movidas a vapor, e para esquentar as caldeiras, usavam madeira de eucalípto. Assim a Companhia Mogiana, tinha entre Mogi-Mirim a Casa Branca, na extensão de mais 70 Km. Uma imensa plantação de eucalípto, para uso nas suas locomotivas.

O governo do estado, tinha em Casa Branca, um Horto Florestal, que por sinal o diretor agrônomo era meu tio Dr. Ranulpho, produzia milhares de mudas de eucalípto para fornecer de graça a todos proprietários rurais, para reflorestamento.

No Brasil todos fazendeiros antigos, tinham orgulho de seus imensos pés destas árvores, por vezes plantadas pelos avós. Eu mesmo na fazenda, cheguei plantar milhares de pés de eucalípto, e cortar outro tanto, para fazer cercas e currais.

VOLTANDO A TRÊS LAGOAS.

Depois de tantas experiências eu e minha mulher Any, fomos jantar no belo restaurante de hotel. Lembro-me muito bem que esta noite eu estava superanimado com a viagem, por esse motivo resolvi colocar esta fotografia.

DIA 15-04-2022. SAIMOS DE TRÊS LAGOAS E FOMOS DORMIR EM ANASTÁCIO, CIDADE VIZINHA DE AQUIDAUANA. BR- 262 DISTÂNCIA 464 Km.

A rodovia Br-262 sai da divisa de SP, contornado a cidade de Três Lagoas, pelo lado Sul, é um trânsito intenso um mega caminhão atrás do outro, sem contar as numerosas lombadas e os radares de 30 Km/h, como uma brincadeira, pois os caminhões andam a 10 Km/h, e não tem espaço nunca para a ultrapassagem.

Não dá para entender uma cidade tão rica, ter um anel viário, que é federal, nestas péssimas condições. Pega muito mal para todos nós que visitamos o estado, é realmente um relaxo inacreditável. Que boa vinda o estado pode dar, se nos dificultam, a primeira entrada, nos colocando em risco de acidente. São inúmeras lombadas, já achatada pelo peso dos grandes, são inúmeros buracos, onde o asfalto não resistiu, e o paradoxo, os radares colocados.

De Três Lagoas até Água Clara são 135 Km, e pista única e muito movimento. Cruzamos duas vezes a estrada de Ferro antiga Noroeste, a passagem pelos trilhos não poderia ser diferente, estão em péssimas condições. Carros pequenos têm que passar pelo capim.

Como já disse, o peso das jamantas é tão grande que o asfalto, nestas travessias de linha fica completamente deformado, destruído.

Eu gosto muito do estado de Mato Grosso, de ambos, mas a displicência dos governantes com as estradas é inexplicável. As estradas destes grandes estados, são como artérias a transportar riquezas, não encontro motivo para o esse descaso. Tantas riquezas transportadas, com tantas dificuldades, são inexplicáveis.

Contorcendo pelos caminhos, desviando de grandes carretas, algumas ultrapassagens a grande velocidade, torna o trajeto muito angustiante. Para fazer os 135 Km, gastamos com muito cuidado 2:07h de viajem.

Não sei, mas achei enigmática a presença na frente do imenso posto Talismã, em Água Clara, a presença desta bela imagem de um carro de bois.

Essa imagem tem um significado profundo para todos nós, mas o intrigante é o porquê, escolheram essa imagem. Em Minas existem lugares que fazem desfiles de carros de bois, mas pelas montanhas da região ainda usam como último recurso esse antigo transporte.

Mas por toda essa região, a expectativa de grande progresso, frente a indústrias do que há de mais moderno. No entanto, tudo tão carente, em termos de rodovias, fico imaginar, o sentido filosófico de quem colocou, esse carro de bois, maravilhoso exatamente nesse lugar!

Na entrada da loja de conveniência do Posto Talismã, está este imenso leão esculpido em madeira. Pelo tamanho do cabo do rodinho, pode-se imaginar quão grande é o leão de madeira. Faz muitos anos que ele está ali, se alguém quiser comprar é 35.000,00 reais. Este é o preço há muitos anos, mas…

A Greenplac de Água Clara é uma das mais modernas indústrias de MDF do Brasil. Todo eucalípto utilizado pelo grupo, vem de plantações próprias do grupo. A firma tem os viveiros de mudas, precisa de agrônomos especializados, para formar mudas selecionadas e manter o padrão necessário.

Manter um padrão da replanta das mudas na hora certa e em perfeitos alinhamentos. Tomar muito cuidado, pois os eucaliptos são as folhas preferidas das formigas cortadeiras do gênero ATTA, chamadas de saúvas. As folhas novas das replantas são as preferidas destas cortadeiras. A parte agronômica destas indústrias é importantíssimo, décadas passadas, lembro-me muito bem, grandes reflorestamentos feitos, com auxílio do governo, foram destruídos pelas formigas cortadeiras.

Hoje andando por essas centenas de quilômetros de plantações, nós que sabemos das dificuldades agrícolas temos que “tirar o chapéu” para a agronomia usada nessas infindáveis plantações. É por esse importante motivo que, o segredo da celulose produzida, e toda madeira colhida, é referido pelas firmas como madeiras usadas de plantações próprias. Acredito, que é mais difícil produzir o eucalípto do que industrializá-lo.

A imensa maioria que passa por essas plantações, não imagina a tecnologia que aí existe, e mesmo a expectativa de chuvas e incrível, do fogo também, pode ser um inimigo.

Saindo de Água Clara, a rodovia corta a cidade pela sua avenida principal. Logo depois passamos a ponte do Rio Verde, importante afluente, da margem direita do Rio Paraná, que desemboca nas proximidades da cidade de Panorama, SP. Passando o rio, logo encontramos os trilhos da estrada de ferro Noroeste do Brasil, que segue até Corumbá. Uma curiosidade, a fotografia foi tirada na frente da entrada da Fazenda dos formosos cantores Chitãozinho & Xororó.

As plantações de eucaliptos que começaram depois de Três Lagoas vão até 20km antes de Campo Grande, incluído Ribas do Rio Pardo. Teríamos desse ponto até Ribas uma distância de 98 Km, a estrada mais reta e bem mais conservada.

Alguns quilômetros antes da cidade passamos pelo famosíssimo Rio Pardo, caminho dos Bandeirantes paulistas em busca de ouro em Poconé. Na foz deste rio no Paraná, existe um clube de pesca muito antigo, quando jovem eu e meu colega Roberto Villela, fomos muitas vezes pescar lá, onde os antigos moradores e ribeirinhos, ainda se lembravam de histórias heroicas do passado do rio. Era entrevero de índios, bandeirantes e colonizadores, rio a dentro, do território a ser conquistado. Segundo eles a “fumaça da pólvora preta dos bacamartes, ainda pairavam no interior das matas.”

Nesse ponto o rio estava sereno e muito bonito, mas a jusante deste ponto existe uma corredeira respeitável, que dava trabalho para ser navegada.

Na rodovia depois do rio havia um grande frigorífico, que foi fechado, pela troca das envernadas do capim colonião, pelos eucaliptais imensos, os bois gordos sumiram, o grande abatedouro se foi. A história é muito dinâmica, quem não se prepara, vai fincado de lado, isso é verdade para tudo: pessoas, cidades, estado e país.

Em seu lugar se instalou a Uniflora – Viveiros Florestais, da grande firma SUZANO. Um imenso viveiro onde são produzidas os milhões de mudas de eucalipto a serem replantados na imensa região de florestas. Na região de Ribas do Rio Pardo, está sendo construída a maior fábrica de celulose de eucalipto em linha do mundo, que vai produzir 2,3 milhões de toneladas por ano. Eles esperam para escoar tudo isso, que a antiga ferrovia, privatizada, se modernize urgentemente.

A rodovia corta a cidade, passamos lentamente pelas múltiplas lombadas atrás de uma grande carreta, o trânsito era “pesado”, não me lembro de ter visto nada do lugar, somente o alto ruído dos freios dos caminhões, estão gravados em minha mente, nesta passagem.

A estrada melhorou muito, mas o trânsito continuava o mesmo, considerando que era Sexta-feira Santa, eu esperava mais paz nas estradas. Como eu estava errado. Creio que todos estamos correndo atrás do prejuízo da Pandemia.

CONTORNANDO A CAPITAL, CAMPO GRANDE.

Chegando à cidade, infelizmente tomei a decisão errada. Logo na entrada, a estrada BR-260 assinala um retorno, para continuarmos na rodovia e contornar a capital. Ao contrário de cruzar a cidade como sempre faço, peguei a estrada para o contorno. Pegamos todo o trânsito para quem vai para o Mato Grosso, Coxim, Rondonópolis, Cuiabá.

Quando vi o movimento gelei, parei, mas não existia retorno, para a volta, sofri nos 38 Km para contornar Campo Grande. Como sempre digo, quem não tem cabeça, tem que ter perna.

Tirei uma fotografia do Google para mostrar os 38 quilômetros de tensão que foi contornar Campo Grande. A distância não seria problema, o caso era o intenso trânsito.

Depois de uns 15Km de congestionamentos, pela Br-163, onde os três postos de combustíveis estavam tão lotados de caminhões, que não poderíamos entrar, passamos pelas rodovias MS-040, que se dirigem para Este, em direção a divisa de São Paulo, Bataguaçu e Presidente Epitácio.

Rotatórias depois passamos pelas entradas das MS-455, que se dirigem ao Sul do estado, Rio Brilhante, Dourados e Ponta Porã. Finalmente pegamos novamente a Br-262 com nosso destino, Anastácio – Aquidauana.

Depois de passar pelas contorcidas curvas da estrada em Terenos, e pelas múltiplas lombadas da Polícia Federal, e cruzar a ponte da Estrada de Ferro Noroeste, iniciamos a descida do planalto, em longas retas em declive, passamos o trevo que entra para Palmeira e Piraputanga.

Aí uma visão tão esperada, a Serra de Maracaju, delimitava no horizonte o seu contorno tão conhecido, algumas curvas ainda apareceram, mas a reta final da chegada já estava à frente.

Era uma sexta-feira Santa, quando chegamos em Anastácio, Any não gostou do hotel, andamos por Aquidauana, ela com fome, mas estava tudo fechado. Foi uma busca sofrida. Aí ela resolveu ficar no Fênix Plaza Hotel mesmo. Pois não havia outro hotel para ficarmos, foi uma angustia muito grande, a busca que fizemos pelas cidades, atravessamos o rio Aquidauana, mas nada, tudo fechado. Any estava muito triste com isso.

Nos hospedamos o apartamento era bom, mas Any muito sensível sentiu um forte cheiro de mofo, não tinha outro hotel, não tinha outro quarto. Abrimos a janela que por sinal dava na área voltada para a piscina. Entrou ar, ela se sentiu melhor. Eu aproveitei e saí para dar uma volta.

Havíamos nos estabelecidos no hotel as 19:00h de Brasília, para a cidade eram18:00h. Na frente do hotel, que fica as margens da rodovia, estava havendo uma reunião de trilheiros, todos muito animados, com suas “gaiolas”, muito bem-feitas. A lua cheia estava nascendo a Este da cidade, sobre a Serra do Maracaju.

Tirando o ruído dos trilheiros, que estavam partindo, tudo era um silêncio muito grande na cidade. Apenas a lua cheia, aos poucos ia alterando a cena, contudo, mais ao longe o ronco dos motores dos grandes caminhões era ininterrupto, a estrada parecia viva, pois o som acompanhava a trilha do asfalto, como alguma coisa muito real.

Aninha estava muito cansada da viajem, depois que ela descansou fomos jantar no hotel, ao lado da piscina, nos serviram uma ótima refeição, e foi importante pois, como dizia o primo Gustão, “a fome estava muito viajada”.

DIA 16-04-2022. (Sábado-da-Aleluia) SAÍMOS DE ANASTÁCIO 11:00HS E FOMOS PARA O PASSO DO LONTRA PARK HOTEL, PELA BR 262. DEPOIS PEGAMOS A ESTRADA PARQUE PANTANAL MS 184.

ERA O DIA DE MEU OCTAGÉSIMO SEGUNDO ANO DE VIDA.

Logo na saída de Anastácio existia esta placa mostrando os lugares, até a divisa do Brasil com a Bolívia. A cidade de Taunay, na realidade nasceu a partir de uma estação de trem da Ferrovia Noroeste do Brasil, na década de 1910 a 1920, e o nome escolhido foi de um herói da Retirada da Laguna, Visconde de Taunay. O nome de Miranda, também é da data de sua fundação. Bodoquena é a serra que depois comentarei.

Um fato continuou nos chamar muito a atenção, o número imenso de caminhões carregando minério, um fenômeno incrível devido ao fato do Rio Paraguai ter parado a navegabilidade, por causa de uma seca nunca vista no Pantanal.

Uns 10Km depois da cidade, existe uma longa reta na estrada, naquele exato momento eu vi atravessando a pista um grande lobo Guará, eu apertei a buzina e espantei o lobo. Depois parei no acostamento, e fiquei observando o animal entrar no pasto. Ele estava de cabeça erguida e trotando, aí vi o motivo, à frente, e olhando bem, estava uma fêmea provavelmente no cio, e o macho dominante indo atrás. O Lobo Guará é um animal solitário, ver dois é um fato que nunca presenciei.

Parei desci no acostamento, o belo animal, parou também e observou-me por segundos e continuou sua marcha, é um animal soberbo.

Antes do posto Pioneiro, passamos pela entrada da cidade de Taunay. Visconde de Taunay, como já comentei, foi um escritor que na Guerra do Paraguai, participou de um episódio chamado Retirada da Laguna. A tropa de soldados brasileiros, em número de 3.000, invadiram o Paraguai, mas foram dizimados, pelas doenças, cólera, malária e fome. Tiveram que bater em retirada, vieram parar na região de Miranda, Aquidauana, o número foi reduzido para 700, tomaram o rumo de Coxim, depois Uberaba, acabaram passando na minha terra Casa Branca, onde existe um monumento, referente a Retirada da Laguna. Estavam passando fome, e foram salvos por um soldado nativo, chamado Guia Lopez. Os índios Terenas ajudaram muito na defesa do território brasileiro.

Com todas essas lembranças na cabeça, pois a Guerra do Paraguai, não tem sido explicada corretamente, passei por essas cidades ligadas a importantíssimo episódio do Brasil no Império, de 1864 a 1870.

Logo depois que passamos pelo grande posto de combustível o Pioneiro, ele tem um pátio imenso, mas estava cheiro dos grandes caminhões. Marco na mente muito esse ponto, pois na longa descida depois, o odômetro da S-10, marcou 1.000Km rodados, a partir de minha casa em Ribeirão Preto. Hoje é um fato corriqueiro, contudo há 40 anos atrás com a Veraneio da Chevrolet, a gasolina, sem tração, as estradas de terra, chegar nesse ponto já tinha sido, uma grande aventura.

Paramos no posto de combustível em Miranda, pois entrando no Pantanal, não tem mais nenhum lugar para abastecimento. Lá no posto uma pessoa ofereceu-me um saquinho com minhocas para pesca. Eu recusei, felizmente. Não sabia que a pesca com minhoca, estava proibida, sujeito a pena.

Saímos do posto de abastecimento, e paramos em seguida no restaurante Querência Pantaneira, para almoçarmos e vermos as coisas bonitas da loja de conveniência.

Essa é uma grande tábua de cortar carnes para churrasco, bem grande e muito cara. Ao lado um pilão para triturar alho, este a Any comprou.

Quanta história tem a cidade de Miranda, ela foi fundada em 1778, era um presídio, de proteção à invasão de espanhóis, assaltantes que existiam na região.

Eu me lembro bem em 1987 quando passei pela cidade de trem com 9 amigos, em um vagão leito, com destino a Corumbá, havíamos pego o trem em Bauru, o famoso NOB – Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Os trilhos na cidade passavam pela avenida principal, Affonso Penna.

A estação da cidade foi inaugurada em 1917, já era um patrimônio histórico. Na parada o movimento na estação era muito grande, passageiros descendo e passageiros subindo, para as várias estações antes de Corumbá. Por exemplo, Salobra, Guaicurus, Bodoquena, entre outras. A velha cidade, guarda em suas ruas e ponte sobre o Rio Miranda, inúmeras histórias, dos bravos índios cavaleiros, Guaicurus, dos Espanhóis, dos paulistas Bandeirantes e da Guerra do Paraguai.

Um dia especial para recordações, pois com 82 anos sendo completados, quantas lembranças:

–A primeira vez que eu vim a Miranda, foi com meu avião PT-NDK, vim junto com o comendador Ésio dono da pinga Jammel, de Santa Rita do Passa Quadro, para encontra com o ônibus Hulk da turma lá da cidade, e fomos pescar bem a montante da cidade. Por sinal foi uma pescaria inesquecível.

–As outras vezes foram de caminhonete, para pescar no Flutuante.

–Uma vez histórica vim de trem leito, com a turma da DABI ATLANTE, saímos de Bauru para Corumbá, uma viajem de 24 horas.

–Ultimamente tenho vindo, como agora apenas de caminhonete.

Com todas essas recordações parti de Miranda, pensando como a vida passa, se não tomarmos cuidados ela passa e nada vemos.

Logo na saída havia outra placa, mostrando os vários destinos das estradas, entraríamos no Pantanal Baixo, com destino ao Passo do Lontra. Logo passaríamos pela rodovia MS-339, que segue até a cidade de Bodoquena, depois para o Sul a estrada sai em Bonito.

Acredito que por mais que somos viajados, nunca deixamos de analisar as placas de sinalização, pois as vezes, nelas podem haver avisos importantes.

Logo depois desta sinalização, há um posto de guardas, há tempos atrás era o terror de nós pescadores, eles queriam ver tudo, documentos e traia de pesca. Hoje, devido à crise nem guardas eu vi, um abandono total.

Sete quilômetros à frente, a esquerda tem a entrada do Hotel Flutuante, mais de cinco vezes, puxando minha grande canoa, Super Alumar com 2 motores de popa, entrei felicíssimo por esse caminho, com meu nobre companheiro José Milton.

Depois que dormimos no hotel, arranjamos toda traia de pesca na grande canoa, e embarcamos, com destino ao Flutuante, uma parte do hotel que ficava a 250 Km, rio a baixo, isso é no encontro do Rio Miranda com o Aquidauana.

Esclarecendo: A sede do Hotel Flutuante, fica onde entramos, perto da cidade de Miranda, mas ele tem uma parte que fica a 250Km rio a baixo, que flutua no rio Miranda, na foz do rio Aquidauana.

Em nossa estadia de agora, pretendemos ir lá, onde era o Hotel Flutuante, contudo, iremos subindo o Rio Miranda a partir do Passo do Lontra, isso é, subindo o Rio Miranda, que é a metade da distância. Esclarecendo, a polícia ambiental, mandou retirar toda estrutura de flutuação do hotel, assim depois de uns anos, tudo teve que ser fechado, não existe mais.

Passamos a ponte do Rio Miranda, no distrito do lugar chamado de Salobra, tem esse nome pois a jusante da ponte desemboca o rio que deu origem e nome ao distrito Salobra, esse rio é sempre lembrado, por ter sua nascente na Serra da Bodoquena, o maior depósito de calcário do Brasil, por esse motivo suas águas são absolutamente transparentes, devido à alta concentração deste mineral nas suas águas.

No passado, década de 1990, várias vezes passei com minha canoa sob essa ponte com destino ao hotel Flutuante, que existia a 170Km a baixo, na confluência do Rio Aquidauana, destas viagens em décadas passadas, vimos muitas vezes sucuris, e duas vezes onças, lá bem distante da ponte onde o Pantanal ainda era muito selvagem.

RECORDANDO O PASSADO NO RIO MIRANDA.

Ao passar pela ponte uma série de lembranças vieram à minha mente, depois que escrevi o parágrafo anterior.

Não me contive, peguei algumas imagens do passado, e comecei a lembrar de uma viagem ao Pantanal que fiz no ano de 1986.

Primeira foto estou no Hotel em Miranda, preparando para grande viagem com destino ao Flutuante 250 Km a jusante da cidade. Mostro na segunda foto meus dois “grandes motores” com os quais naveguei pelo Pantanal.

Eu sempre gostei de navegar pelos rios do nosso Sudeste.

Quando jovem dos 14 aos 18 anos naveguei muito pelos rios: Pardo, Mugi-Guaçu e Jaguari, com meu tio Caetano. Ele tinha o primeiro motor de popa que conheci. Um motor “muito potente” de 5Hp, Evinrud. Navegávamos muito lentamente, mas para quem havia saído do remo, para o motor de popa, era o máximo. Nos sentíamos o rei dos rios.

Quando me formei em 1965, comprei uma lanchinha usada, de fibra de vidro, motor Yamaha de 25 HP, com ele desbravei o Rio Grande, da grande divisa da São Paulo com Minas Gerais: Rifaina, Ituverava, Miguelópolis, Mira Estrela. Tenho ótimas lembranças de todos esses lugares, 20 anos por esses lugares eu naveguei e pesquei.

Queria ir para o grande Rio Paraná, a lanchinha não daria conta do recado. Então, sob orientação de um amigo entendido, comprei uma canoa grande uma Super Alumar, de 8m e borda alta. Motor de 25HP, Yamaha. Com ela corri o Paranazão, de Norte ao Sul: Ilha Solteira, Jupiá, Três Lagoas, Panorama, Porto XV de Novembro e Porto Primavera. Sergio Motta, UHE não existia.

Eu e Alfredo Nuti, grande companheiro, resolvemos navegar os Rios do Pantanal Sul. Nas imensidões que pretendíamos andar, se um motor de popa desse defeito, a coisa seria feia. Lá não existia recursos e as distâncias são enormes. Solução, um motor auxiliar, Johnson de 15 HP. Isso já era o ano de 1986, quando puxando uma grande canoa partimos para o Pantanal.

Nas primeiras fotografias estou ao lado da canoa e motores, com os quais naveguei pelos rios do Pantanal Sul.

A primeira foto é de meu amigo, estamos cortando o pantanal em direção ao Hotel Flutuante, que ficava na boca do Rio Aquidauana com o Miranda, desligamos o volante, e o piloteiro Tutu, comandava a descida, cortando as limpas águas do Miranda. Uns 50 Km antes do hotel vimos esta imensa sucuri no barranco, quando paramos, ela na maior calma foi saindo para a água. No outro dia, 15 Km a baixo, vimos duas onças atravessando o rio, era um casal, fêmea no cio.

Uma alegria imensa quando chegamos no hotel flutuante. Nesse dia eu tinha 46 anos de idade. Não imaginaria nunca, que voltaria um dia passar pelo mesmo lugar aos 82 anos de vida. Agradeço muito a Deus esta oportunidade de viver. Como veremos a polícia florestal, interditou o hotel, ele não existe mais nesse lugar.

VOLTANDO A VIAGEM PARA O PASSO DO LONTRA.

DIA 16-04-2022, aniversário de 82 anos.

Incrível, mas observamos as águas do Rio Miranda particularmente sujas e cheias de galhos e detritos. Para nossa pescaria isso não seria um bom sinal, se estas águas já estivessem lá no Lontra. É a primeira vez que vejo as águas deste rio tão sujas e cheias de detritos.

Existe, depois da ponte a esquerda a entrada para um hotel também chamado de Salobra. Já estive lá há tempos, o que eu não me esqueço é que, no centro do restaurante, sustentando o telhado, tem uma tora imensa de ipê, uma arquitetura inesquecível.

Seguindo a viagem.

CONHECENDO A FAZENDA SÃO FRANCISCO.

Fazenda San Francisco Agro Ecoturismo Pousada e Passeios, situa-se no Pantanal do Rio Miranda MS. Possui uma grande variedade de fauna e flora. Tem focagem noturna e safari ecológico. Pode-se fazer o day-use.

Baseado nas propagandas da fazenda, quis conhecer o lugar, o acesso é ótimo. Apenas uns 15 Km fora da rodovia. As agências de turismo fazem uma ótima propaganda do lugar. Contudo os preços não são nada convidativos, para nós que já conhecemos muito a região.

É uma fazenda típica do Pantanal Alto, tem muitas pastarias com gado nelore, gado europeu e cruzado. Tudo muito amplo, a curralama é muito bem-feita, aparentemente com madeiras de aroeiras. Perfeitos separadores de boiadas e embarcadouros. Para mim, que já fiz um modesto curral, aquele era uma obra monumental.

A entrada da fazenda fica a uns 25 Km depois do Rio Miranda a direita da rodovia.

Na propaganda existe um mapa do Google, que copiei para mostrar exatamente onde é a sede, realmente está no início do Pantanal Baixo do vale do Rio Miranda, um lugar maravilhoso, para o turismo. Os meandros verdes do Miranda, dominam verdadeiramente a fotografia do satélite.

A visão da estrada de terra branca arenítica, com a pastaria nativa, de capim e arbustos, é um cartão de visita para nós. O ruído dos pneus nos pedriscos da estrada, despertaram a lembrança, faziam muitos anos que eu não ouvia, o andar em da condução em uma superfície de pedregulhos.

Logo depois da entrada vimos uns garrotes mestiços e outros nelores, de ótima constituição e bem tratados. Quilômetros à frente um grande bando de capivaras atravessou calmamente a estrada. Não se preocupavam, pois todo espaço era deles.

No Pantanal praticamente os únicos inimigos das capivaras são: as onças pitadas e as sucuris.

Dizem que os jacarés pegam também capivaras menores, contudo eu nunca pude constatar isso.

Mais à frente tivemos uma visão bastante interessante. Um imenso bando de marrecas migratórias dos pampas gaúchos e o mais importante uma vara de Porcos Monteiros.

Esses animais têm história, eram porcos de um Proprietário chamado Monteiro, que possuía uma grande quantidade de chiqueiros, isso na região do Tarigara (Rio São Lourenço), há mais de 1 século atrás. Em uma inundação da região, todos os porcos, incluindo das pocilgas, foram levados pelas águas. E, ao longo dos tempos, esses porcos, passaram a fazer parte dos animais do pantanal. Meu pirangueiro, da pousada onde eu vou ficar, é especialista, em caçar porcos alongados, chamados porcos Monteiros. Eu já os vi por todo Pantanal Norte e Sul, como é o caso. Os habitantes destas regiões, acham a carne destes suínos, muito boa.

Depois de uma estrada cheia de surpresas agradáveis, chegamos à sede da fazenda onde estão os hóspedes, todos aparentemente neófitos de fazendas e de Pantanal. Estavam em volta de uma piscina de águas turvas, lendo felizes livros, estendidos em ótimas redes. No restaurante uma alegre família de jovens nisseis, almoçavam comidas pantaneiras. Na secretaria um casal animado contratava um tour pela fazenda.

Todo muito arborizado e limpo. Bandos de gaviões caracará, brigavam ruidosamente para tomarem banho em uma fonte de água. A presença de dezenas deles agitou ruidosamente um grande bando de maritacas de cabeça preta, que faziam sincronicamente voos acrobático, sobre as árvores. O número de pássaros era incrível, pássaros pretos cantando sua maravilhosa melodia. Canarinhos brasileiríssimos, amarelinhos e verdes, cantavam e saltitavam pelos galhos das jabuticabeiras. No fundo do bosque um casal de mutuns, com suas penas carijós, amarelas e cinzas, o macho, cortejava uma fêmea bem preta reluzente.

Realmente o lugar é belíssimo, para conhecer, vale a pena passar e ficar lá hospedado. Passou por mim um pantaneiro típico, puxou conversa, ele era o responsável pela condução do caminhãozinho para os tours. Falou das coisas que mostrava, quando perguntei das pintadonas. Ele fez uma pausa, pois a mão na faca, que o pantaneiro carrega nas costas, e disse: Olha doutor, nessa época é mais difícil vê-las, faz mais de três dias que não vemos nenhuma. E declinou tudo que poderia ser visto em um passeio, com muita propriedade e honestidade, gostei.

Aí a conversa foi longa. O pantaneiro como ele, ama o seu lugar, seus braços estendiam e mostrava a Serra da Bodoquena, que seria o limite de seu profundo conhecimento da região. Depois virava, e falava do rio Miranda, situado a Este da fazenda e dizia: Olha daqui lá tem 6 quilômetros, na realidade falou tem uma légua. É um rio muito bonito, quando vamos lá com uma varinha pega-se muitos peixes, principalmente grandes piranhas. Esse peixe pela facilidade de pegá-los, e seu filé é uma delícia, torna-se o preferido dos ribeirinhos.

Depois, andando pelas dependências da pousada achamos duas salas que eram verdadeiras áreas de Histórias do Pantanal e de História Natural da flora e fauna da fazenda.

O esqueleto da onça pintada é uma obra científica de primeira grandeza. Se compararmos a estrutura deste felídeo com o de um gado doméstico, não encontramos nenhuma diferença, a não ser o tamanho. Fiquei um tempo examinado o material, principalmente na cabeça, o esmero e o conhecimento que a pessoa teve para montar todos esses ossos é surpreendente. A onça pintada prende seus possantes músculos desses ossos, tornando um animal de força fora do comum.

Uma das salas estava repleta de documentações sobre a fazenda e sobre o Pantanal. Tudo muito bem organizado, haviam dezenas de fotos dos zagaieiros matando onças pintadas, era um tempo de conquistas e explorações.

Terei que voltar lá um dia com mais tempo, para ler todo o histórico da fazenda que é longo e completo.

O esqueleto da onça pintada, era realmente perfeito, digno de um museu de História Natural. Este é o terceiro felino em tamanho no mundo: Tigre, Leão e Onça Pintada. Este animal é um símbolo da vida selvagem pantaneira, seguida do:

Cervo do Pantanal, que é o segundo símbolo a ser considerado. Eles têm um dimorfismo sexual evidente, pelo tamanho, pelos chifres e pela postura. Esta cabeça do animal com suas grandes aspas, é também um símbolo eloquente da planície pantaneira. Sua altivez, sua postura significam muito da vida selvagem da região.

Jacaré-do-pantanal, é um símbolo icônico do Pantanal. Ele tem histórias contadas por números autores. Contudo, a primeira vez que li sobre o jacaré no pantanal, foi no inesquecível livro de Francisco de Barros Júnior, “Caçando e Pescando” por todo Brasil.

A segunda vez, foi no livro, descrendo a viagem do presidente dos USA, Roosevelt e Marechal Rondon, subindo o Rio Paraguai, onde o presidente americano ficou impressionadíssimo com o número de jacarés existes. Conta o livro, que o presidente americano, atirava no olho do jacaré, para vê-los murchar, e morrer no lugar. Não sei se isso é verdade.

Na década de 1960 a 1986, a matança dos jacarés foi máxima. Apareceram os coureiros no Pantanal, que chegavam matar mais de 100 jacarés por noite cada coureiro, e eram centenas. Somente aproveitavam o couro da barriga do animal, o resto era descartado, formando montanhas de carniça. Cheguei a ver, no Corixo Paraguai-mirim, um monte macabro destas carcaças em 1978. Todos os coros retirados, eram exportados do país Paraguai, para o mundo todo, e lá se transformavam em couro de crocodilo.

Consta na época que foram abatidos mais de 5 milhões de jacarés no Pantanal. O mundo, o IBAMA, combateram essa atrocidade, e quando começaram prender coureiros, e no exterior combater o uso “das bolsas e sapatos de couro de crocodilo” foi realmente que interrompeu a matança. Hoje, 50 anos depois, seu número está restabelecido, em torno de 10 milhões.

O alimento principal dos jacarés são os peixes, tem espécies abundantes, como os acaris e as piranhas. Geralmente o número de jacarés é limitado pela quantidade de alimento que ele encontra na natureza. O homem não pesca nunca o acari, e raramente uma piranha, com isso esses peixes tornaram o principal alimentos dos jacarés, e são eles que mantêm o equilíbrio na natureza.

Durante décadas os peixes nobres do pantanal, foram pegas em toneladas. Foram quase dizimadas pelo homem. Cheguei ver no rio Miranda, mesmo no Passo do Lontra, caminhões frigoríficos, carregando centenas de pintados, cacharas, jaús, dourados. Eram pegos, com redes, tarrafas e anzóis de ganho.

A partir do momento que o controle ficou rigoroso, e o turismo dar mais dinheiro que a pescaria, o número de pescados está se restabelecendo, dificultando um pouco pela poluição nas áreas dos criames.

O fogo nas pastagens, resultam em milhões de toneladas de cinza tóxicas, quando vêm as chuvas, essa matéria tóxica cai nos rios, produzindo o fenômeno da decoada, tiram o oxigênio das águas e matando milhares de peixes nobres. Esse é um fenômeno de dificílima solução.

O Pantanal do século passado era realmente muito rico em espécies. Quem navegou pelos rios nas décadas de 1910 a 1935, que tive oportunidade de ler e ouvir, contavam maravilhas. Bandos de Maguaris que demoram horas passando. Jaburus em enchiam lagoas. Onças pintadas que vinham nos currais, pegar novilhos.

Não havia estradas, as que haviam na seca somente para cavalos e carro de bois, os fazendeiros todos tinham seu pequeno avião para irem às fazendas, que eram imensas.

Tirando o pantaneiro que nos deu atenção, ninguém mais na bela pousada se preocupou em nos receber. Estava na hora do almoço, fomos até o restaurante, mas eu e Any sentimos um intruso na porta, assim partimos, satisfeitos com o que vimos, e frustrados pelo não ouvimos.

Partimos conhecendo o lugar, mas sem nenhuma informação do funcionamento da ecologia apregoada na propaganda.

Saímos da fazenda felizes pelas belezas que vimos. Mas não deixamos de nos encantar, mais ainda, com o verdejante pantanal. Em todos lugares havia vida, a nossa frente nessa curva um grande bando de curicas saiu voando. E no horizonte distante, a incrível Serra da Bodoquena marcava o limite. Quanta beleza e quanta riqueza.

Andamos mais um pouco, as mansas curicacas pousaram na margem da estrada, a imponente serra do maior depósito de calcário do Brasil, não deixou de nos impressionar muito. Desde estudante eu ouço falar muito desta serra. Falar sobre a enorme Fazenda de Rockefeller, onde o trem da Noroeste do Brasil tinha 3 estações, e o sal nos coxos da enorme boiada era colocado de avião, Cessna 182.

Os 20 melhores alunos da ESALQ, eram no último ano, premiados com uma viagem de 20 dias, aí nesta fazenda. Eles vinham de trem pela Noroeste do Brasil. Ficavam estarrecidos com todos aspectos da imensidão da fazenda, havia muitos bois, chamados de alongados, que nasciam e cresciam, sem nunca ter visto um pião. Eram como uma fera, para embarca-los, era uma caçada realmente. De manhã, no café da manhã, havia garçons para servir os doutores. Depois pegavam dois aviões, com sal mineral e saiam distribuindo o sal pelos inúmeros retiros da fazenda.

Não se já falei, mas hoje a fazenda é do Bradesco, é uma pequena cidade, sei que tem consultórios, em número de 6 para atendimento dos funcionários.

Passamos por uma lagoa onde um bando de búfalos se refrescavam, e fugia dos importunantes parasitas. Fiquei um tempo observando, as plantas aquáticas moviam ao redor dos animais de maneira incessante, penso que pequenos peixes estavam limpando, os pelos dos animais, por esse motivo os grandões estavam tão serenos.

Voltamos para a BR-262, 20km depois fomos parados pela polícia federal, examinaram os documentos, isto é, ele verificou tudo pelo celular, depois perguntou se eu não me oporia a fazer o teste do bafômetro. Disse que não, e fiz o exame, ele nos mandou seguir.

A missão da polícia federal nesta barreira é muito antiga e importante, principalmente para controle das conduções que veem de Corumbá X Bolívia, no controle do contrabando de entorpecentes.

No trajeto da rodovia, até o destino, vimos alguns animais mortos atropelados, existem placas pedindo respeito aos animais, contudo com este grande tráfego de caminhões, não tem jeito, não dá para segurar 50 toneladas, quando uma capivara cruza a pista.

Tivemos uma experiência, um pequeno jacaré, começou atravessar a pista, uma jamanta que vinha correndo, iria destroçar o animal. Parei, Any desceu correndo e espantou o animal de volta para o brejo.

Tenho uma longa história com este morro no meio do Pantanal. Quando eu completei 50 anos, tirei uma fotografia no Rio Miranda, tendo o Morro do Azeite ao fundo. Durante estes 32 anos sempre que possível passei meus aniversários, aí no Rio Miranda. Sempre achei que, por esse morro ter sobrevivido, isolado, no meio desta planície, ele deve possuir uma energia extraordinária, de sobrevivência. A formação da área pantaneira, iniciou a 2,6 milhões de anos, e tem duração até 11,5 mil anos atrás, o chamado período geológico do Pleistoceno. Por esses motivos, que o morro é tão importante para todos. Ele é sem sombra de dúvida, um sobrevivente.

Eu o conheço bem deste 1977, quando tinha meu avião, e fazia a rota Aquidauana – Corumbá, para pescar no barco Cabexi, eu passava sobre ele como um importante referencial da rota. Me sentia realizado ao ver aquela imensa mancha verde, no horizonte da planície, somente 100Km depois é que podia ver a Serra do Urucum, chegando em Corumbá. Por esse e outros motivos esse ponto é para mim uma referência de energia para a vida.

É incrível as coincidências da vida, cheguei nesta placa, que fica ao lado do morro, no início da Estrada Ecológica do Pantanal, exatamente na hora em que eu nasci há oitenta e dois anos atrás. Jamais imaginaria uma coincidência desta, pois segundo o diário de minha saudosa mãe eu vim ao mundo exatamente aos dez minutos para as 16:00h, isto é, 15:50hs.

ESTRADA PARQUE DO PANTANAL.

Nessa placa do morro do Azeite tem início essa estrada. Ela tem um interesse turístico muito grande. Compreende os trechos da MS-184 e da MS-228, municípios de Miranda, Ladário e Corumbá. Ela tem 116 Km de estrada de terra e passa por 74 pontes de madeira.

Coloquei este mapa do Google, para mostrar a grandiosidade do Pantanal. A estrada corda uma imensidão de águas, na seca elas se limitam a rios e corixos, nas águas, se encontram ocupando espaços, fertilizando campos, dando vida às árvores. Quando as águas não vêm é o desastre, o fogo das pastarias, encontram as árvores secas, o incêndio se alastra, vão destruindo tudo, plantas e animais.

Nos primeiros 50 km a estrada vai para o norte, depois no lugar tratado por Curva do Leque, outros a chama de Esquinão, ela se bifurca. Para oeste, Porto Manga, Rio Paraguai e Corumbá. Para este, toda imensa e rica região da Nhecolândia, ela na realidade é a grande Transpantaneira, que um dia saiu de Poconé até Corumbá. http://viagensdrsergiolima.com.br/. (Ver Transpantaneira).

Ao lado da Estrada Parque, uma rota que corta o Pantanal, sem asfalto e riquíssima em buracos na seca, e de barro nas águas, ela vai passando por corixos, depois cruza o Rio Abobral, chegando 20 km à frete no Esquinão, também chamado Curva do Leque.

Para o Porto Manga a oeste, quando se chega no Esquinão. E ao Norte para as grandes fazendas na região da Nhecolândia. Essa estrada era antigo caminho para Corumbá. Assim passando de Balsa no Porto Manga, chega-se a Corumbá por terra, cruzando a Serra do Urucum.

A fotografia é um exemplo da maior queimada que houve no ano passado, em toda região. É um fato histórico no Pantanal. Todo ano os pecuaristas em certas áreas de pasto, põe fogo na pastaria. O fogo somente queima as gramíneas, não atingem as árvores, por que estas estão em áreas molhadas e muito úmidas.

Contudo esse ano, houve a maior seca de todos os tempos. Assim as matas estavam ressequidas, e o fogo não as perdoou, a queimada foi imensa por toda a área, como pode ser visto na fotografia, todas árvores foram mortas e perdidas. A recuperação destas matas é para mais de 10 anos, se chover bem no pantanal.

A prova disto é a foto seguinte, onde a mata úmida na margem do rio, não pegou fogo, está verde e bonita.

O pantanal ecologicamente vive muito bem com as águas, o ciclo das enchentes mantém a biodiversidade de toda região. Ano passado a seca alterou o ciclo, e as queimadas e matanças dos animais ocorreram. Isso foi muito bem documentado pela televisão, em numerosas reportagens, creio que servirá de alerta, para os próximos anos.

A satisfação, depois de 2 anos da Pandemia estar voltando ao Rio Miranda, no Passo do Lontra, é muito significativo para mim. Quantas pescarias, quantas emoções, alegrias de estar junto a natureza. Quantos companheiros que comigo foram aí pescar, fizemos churrascos no mato, vimos onça e o cervo do pantanal. Invoco a Deus neste momento, o nome de meus companheiros que partiram: Alfredo Nuti, Walter, o Vartão, José Paulo, Mario Roberto, Gustão, Honda, Pereira, Canhoto.

Na vastidão das verdes árvores da mata galeria, as nuvens cúmulos de bom tempo enfeitando o limpo céu azul, a corrente das águas do Miranda vindas lá da distante Serra do Maracaju, carregam todas as alegrias de eu estar aqui novamente, e poder navegar nestas águas.

CHEGADA AO PASSO DO LONTRA PARQUE HOTEL.

Fiquei tão emocionado ao entrar na estradinha, dentro da mata que leva ao hotel, praticamente não prestei atenção em nada, apenas recordei, que da última vez, encontramos na mata um grande bando de quatis, correndo na frente da caminhonete.

A surpresa foi quando saímos da caminhonete, no estacionamento do hotel, simplesmente fomos atacados por um infinito enxame de pernilongos, quase que, desistimos, entrarmos novamente na condução e voltamos. Fomos recebidos por um homem que não era dos meus conhecidos. Ele foi ao telefone, e voltou bronco como ele, e disse: Vocês não têm reserva aqui!

Fiz uma cara, e disse qualquer coisa, que ele voltou correndo ao telefone, falando com o gerente. Deve ter levado uma bronca, pois voltou manso com o carrinho de levar a bagagem para o apartamento. Por sinal, a secretária havia me reservado o melhor apartamento, para eu ficar.

Tem quase 1km entre o estacionamento e os apartamentos, o caminho é sobre as pontes de madeira. Logo tudo foi descarregado, entramos no apartamento e ligamos o ar condicionado, para nos livrarmos dos agressivos e famintos por sangue, os pernilongos.

Depois de tudo no lugar, resolvi enfrentar os vorazes insetos e ir ao porto ver os barcos que eu havia alugado. Eram barcos novos, com motores de 40HP. Fiquei tranquilo. Pois pretendíamos navegar muito, pelos rios da região.

Toda a sujeira que vi flutuando lá no Salobra, ainda não havia chegado ao Passo do Lontra, felizmente, mas por pouco tempo, pois a 5 Km/h, já há dias carregado pelas águas, logo chegariam por todos os lugares.

A visão do Rio Miranda, naquela tarde era maravilhosa. O sol poente projetava silhuetas nas águas. Os barcos que passavam roncando, levantavam ondas simétricas nas águas, que faziam as sombras tremerem. A agitação das águas, moviam os embarcadores, de forma cadenciada. Casais barulhentos de papagaios cruzavam o céu. Na margem oposta, no alto de uma grande piúva, um bando de bugios, urravam agressivamente em desafios, com certeza, por uma fêmea no cio. O duelo gutural, se prolongou até o pôr do sol.

A cor vermelha predominava no poente, e tornava as águas do rio quase de sangue. A copa das grandes árvores, refletiam o vermelho da tarde. As piúvas também ficaram coradas, o urro dos bugios se tornou mais intenso ainda. Com a luz iluminando as árvores, parecia que todas adquiriam uma personalidade de identificação. Suas copas não se misturavam, em sombreados, elas se expunham mostrado seus nomes, na linda margem do Miranda.

Tudo estava tão lindo, que deu para suportar os pernilongos e ir chamar minha mulher Any para ver tanta beleza, e tomarmos uma cervejinha, pelo dia de meu aniversário. Aí ganhei um presente de Deus, a lua cheia nascendo, no rosa pôr do sol pantaneiro, com a atmosfera absolutamente limpa.

A lua cheia lentamente foi desenhando as silhuetas em sombras escuras das grandes árvores da mata. Quando a luz do luar iluminou o grande ipê a nossa frente, onde urravam os bugios, eles também silenciaram, como se estivessem admirando a grande deusa da noite. A imensa piúva a frente enfeitava o céu. As outras eram ofuscadas pelo brilho da grande lua em seu nascedouro. A cena era de rara beleza, foi um presente de Deus, para o dia de meu aniversário.

Eu sozinho, às margens do Rio Miranda, agradeci muito ao Pai, todos anos que já havia vivido, toda a beleza que ele me permitiu contemplar, e naquele momento, senti realmente a grandeza da vida. O milagre de uma existência.

Pedi ao solícito dono bar uma cerveja para comemorar o dia de meio aniversário. No isolamento de toda aquela imensidão pantaneira, beber sozinho às margens do Rio Miranda, não seria suficiente. Então convidei minha mulher, para compartilharmos aquele momento especial.

Sabia que seria um sacrifício pois os insetos hematófagos estavam no ataque. Ela veio, caminhando lentamente pelas passarelas, mas quando viu a lua nascente se animou. Sentamos e conseguimos apreciar a natureza em transformações ao luar.

É realmente um momento ímpar no dia, quando o sol se esconde e a lua aparece. Mesmo os insetos como os grilos, escondidos nas tábuas emitia em grande altura seu grilar. Os casais de papagaios, passavam batendo fortemente suas asas em direção ao pouso.

Pedi a um companheiro que tirasse esta fotografia para guardar o momento de estarmos ali, naquele ambiente maravilhoso.

As vozes da tarde foram substituídas pelos sons da noite. Primeiro o pipilar dos morceguinhos insetívoros, que em voos acrobáticos, capturavam suas minúsculas presas. A ave “mãe da lua”, com seu longo canto grave, dava dimensões ao espaço, não nos permitindo saber onde ela estava na mata. Os pequenos peixes, pulavam nas águas, pegando os insetos noturnos que lá caiam. Um grande jacaré, parou silencioso no ancoradouro, o motivo, alguns peixes pequenos usados como isca, que estavam jogados por lá. Ao longe na mata uma ave chamada carão, emitia seu longo chamado na escuridão da mata, de tempos em tempos emitia seu longo chamado, nesse lugar já ouvi esse pássaro passar horas no chamamento.

Logo em seguida nosso pirangueiro, Uander, chegou para nos cumprimentar, ele estava pescando. Combinamos ajeitar a tralha no outro dia de manhã, para sairmos para a pesca.

Saímos, e procuramos nos preparar para o jantar. O refeitório é bem grande, havia muitos hóspedes, todos animados, mas poucos haviam pego peixe.

Depois do jantar fomos caminhar pelas passarelas do hotel. Neste ponto estamos a uns 30m do apartamento. As árvores iluminadas aparecem como florestas distantes na escuridão da noite. Como era o dia de meu aniversário, creio que estava muito sensibilizado, por tudo. Primeiro, achei a maneira de minha mulher, na maior tranquilidade, transmitindo a mim uma grande paz e amor pelo dia. As árvores agitadas pela brisa, faziam a luz do luar dançar.

Fomos caminhando pelas passarelas, somente o barulho das tábuas, marcavam o compasso do passeio, o silêncio envolvia os pensamentos, por um tempo nada falamos, apenas ouvíamos as vozes da noite pantaneira.

A noite era de um plenilúnio maravilho, tão intenso que as nuvens cúmulos pareciam flocos de algodão suspensos no céu. A iluminação das árvores frente ao apartamento manchava de verde a escuridão. As passarelas marcavam seu espaço, um convite para se caminhar, pela noite.

Fomos caminhando por quilômetros, até chegar em um lugar com pouca iluminação. Ficamos então observando a incrível Via Láctea, os gregos tinham razão ela pode lembrar, um jato de leite lançado ao espaço, por uma deusa. Depois de um tempo vi um grande meteoro cruzar o espaço.

Debaixo da passarela do porto, quatro grandes capivaras deitadas, nos observavam passarmos. No alto de uma árvore, uma grande coruja branca, observava o chão em busca de uma presa. Depois de tantas emoções em meu dia de aniversário resolvemos ir dormir.

Céu de estrelas no Pantanal, deslumbrante. (A fotografia não traduz o que víamos).

Nas noites pantaneiras é possível observar as estrelas e os planetas, com mais perfeição. A Via Láctea, se estende maravilhosa na escuridão do espaço. Observando a abóboda celeste, fico pensando, o que somos nessa imensidão de Deus?

Somente acreditando seriamente NELE, podemos usufruir de toda a natureza em festa a todos momentos do dia. A Natureza não dorme apenas mudam as personagens. A noite é o silêncio, hora dos felinos se alimentarem, das corujas, curiangos, as víboras, em fim uma plêiade de noturnos das noites.

De dia é a luz, a natureza em festa, e o fenômeno principal de nossas vidas a fotossíntese, o milagre da luz criando a matéria.

Com esses pensamentos paramos para meditar, no descanso do apartamento.

Na frente do apartamento tem esse arranjo, muito bonito e de um bom gosto incrível. Sentamos um pouco no lugar esperando o sono, e ouvindo os sons da noite.

Estamos acostumados com ruído branco, das cidades, ou seja uma mistura de todas vibrações sonoras, de 20Hz a 20.000Hz, quando na natureza, os sons se mantem em escalas definidas, graves, médias e agudas, passamos a ouvir pássaros noturnos, o vendo agitando galhos, o coaxar dos sapos e rãs, o grito estridente da capivara fugindo de seu inimigo mortal, a onça.

Depois de uns 30 minutos ali sentados no silêncio, parece que eu ouvia o vendo, caminhando, vindo sul mais frio, pressão maior, para a baixa pressão do pantanal norte. Os arfar das folhas das grandes árvores, como que acariciavam a brisa pantaneira.

O tempo foi passando, eu tentando identificar a natureza dos sons da noite. Mas depois de pouco tempo, a luz brilhante da lua inundou todo ambiente, até as estrelas apagaram.

Contudo o canto alto e em dois tempos, na mata, chamou-me a atenção, o pássaro por cantar a noite, e de maneira peculiar, eu já havia escutado ali mesmo no Pantanal. Seu nome é CARÃO.

É na época reprodutiva, que a noite especialmente, eles cantam horas sem parar. Geralmente eles dão 4 a 5 cantos, depois param por um tempo indeterminado, de 5 a 20 minutos de intervalo. Fui dormir, e peguei no sono ouvindo, na mata, o interminável canto do Carão.

Isso é o Pantanal.

DIA 17-04-2022. Domingo de Páscoa. Subimos o rio Miranda até o Rio Vermelho, depois até o Aquidauana e Touro Morto.

No outro dia cedo ao sair do quarto, uma surpresa agradável um casal dos barulhentos aracuãs andavam pelo chão, gritando sem parar. Debaixo do quarto um grande mutum macho, procurava comida.

De dentro do quarto já podíamos ouvir a algazarra dos aracuãs pelas árvores da pousada, eram cantos de chamados, eram gritos altíssimos de disputas, pelos territórios e dos ambientes. Quando saímos para o café, um aracuã, mais agressivo, assentou no corrimão da passarela e nos olhou desprezívelmente, como nos dando uma mensagem, “estes lugares são nossos”. Ficamos parados, lendo a mensagem, quando ele partiu, em um voo ruidoso, passamos em silêncio para café.

Tomamos um belo café, estávamos atrasados pois todos que iam à pesca já haviam saído. Como pretendíamos passar o dia, solicitei um lanche para nós. O pirangueiro solicitou uma quentinha, eu e Any um lanche.

Dia 17-04-2022 eram 09:40 quando preparamos tudo para a grande pescaria. Um bote maravilhoso, com ótimas acomodações e motor de 40HP, era sair “voando” pelos rios pantaneiros em busca de animais, paisagens e algum grande peixe. Aí na foto estou com o pirangueiro Uander, prontos para a tão esperada pescaria.

O rio Miranda estava muito sujo devido ao temporal passado, assim tínhamos que buscar, rios mais limpos que desaguam no Miranda, onde poderiam encontrar algum pescado, pois as iscas saem da água limpa e os grandes ali se alimentam. Nossas opções seriam, corixos, Rio Vermelho, corixos, Rio Negro. Depois Rio Aquidauana, corixos, Rio Carrapato, Rio Touro Morto.

Fenômeno, dias antes havia dado um temporal nas cabeceiras dos rios, com isso a água do Miranda estava suja, como se diz em virtude de uma enxurrada que entrou no rio, levando paus, toras, galhos. Somente dava peixe nas bocas dos rios de águas limpas. Toda sujeira que vimos em Salobra, chegou à noite no Passo do Lontra.

Em muitos lugares a montante da cidade de Miranda, a importante Mata Galeria, que ficando às margens do rio, protege suas águas, contra o assoreamento, elas foram destruídas. Assim os pastos, as plantações, quando a chuva é torrencial, joga terra siltes, detritos, galhos, troncos, dentro da caixa das águas. Tornando-as barrentas, sujas de todo esse material, levado pela enxurrada. Todos esses detritos, toda essa sujeira, vão até o represamento dos grandes rios, no caso o Paraguai, aí ocorrem os assoreamentos, e os deltas das mudanças na foz de todos os rios do mundo.

O maior e histórico exemplo é o delta do rio Nilo, no Egito.

Contornando os detritos, partimos, com fé e velocidade rio acima.

Este equipamento uso desde ano 2000, ele se manteve fiel durante todo este tempo e a Garmin, o mantem atualizado através de seus 28 satélites artificiais estacionado no espaço. Incrível, todas estradas novas, avenidas novas, abertas, ele logo se atualiza automaticamente.

Me acomodei bem tranquilo, e partimos com tudo organizado, incluindo o Gps ligado na proa do barco. Nesta fotografia, meu rosto está contraído e sério, a bem da verdade eu não sei o motivo.

Seria a emoção da volta, depois de todos esses anos? Seria a saudade de amigos que por lá passamos em pescarias? Não sei, nossa alma é um compartimento, que somente se manifesta na fisionomia. A minha com certeza, é de emoção e reconhecimento das curvas do rio, onde pesquei, das retas onde rodamos, dos amigos que lembramos.

Quando me posicionei no banco, olhando para frente, a nuvem se dissipou, as curvas tornaram suaves, e as retas mais curtas, o objetivo era a foz do Rio Vermelho.

Esta fotografia é do moderno celular da Any, mostrando nossa posição, no Rio Miranda a montante do Passo do Lontra, em relação ao Rio Vermelho. A tecnologia destes celulares, até nos espanta. Nós estávamos exatamente na posição assinalada no mapa. É incrível, por quantos anos subi este rio Miranda, antes da Pandemia, nesse dia, prestando atenção nas madeiras que desciam pelo rio, sentindo uma grande emoção de estar navegando, me emocionei nas curvas fechadas, relembrei os lugares que eu havia pescado. Depois das curvas, a aceleração dos 40 cavalos, roncavam novamente, vencendo as retas até a próxima curva. A emoção foi enorme, quando cheguei na foz do Rio Vermelho.

Rio de emoções passadas, hoje indescritíveis, décadas atrás, por lá eu e primo Augusto, encontramos um cardume imenso, de grandes dourados. Cada rodada fazíamos um duble, o primo gritava a plenos pulmões: “Não adianta vir aqui, não, pica-pau. Aqui é aroeira”.

Tiãozinho, sem os incisivos superiores, abria largos sorrisos de alegria, pois cada peixe pego e solto, ele ganhava na época 20,00 cruzeiros. As águas dos dois rios continuam passando, mas minhas lembranças voltaram, e a emoção também. Tenho fotos desta pescaria na internet.

Este lugar que no passado era distante e isolado, hoje é muito conhecido. Havia mais de 20 barcos com pescadores na boca do Vermelho. Posso afirmar, o lugar é o mesmo, contudo a aventura, o silêncio da rodada se foi, com as águas dos rios.

Descíamos rodando, concentrado nas linhas, mas sempre tinha outro barco roncando rio acima. As ondas dos motores, agitavam as águas e abalaram minha mente. Não dava para ficar ali, eu já havia sido alertado, pelo piloteiro. Mas ele insistiu, rodamos umas 5 vezes, com iscas vivas de pequenos curumbatás, por sinal uma das melhores que tem para aquele momento. Nenhuma puxada, subíamos silenciosos, e torna descer rodando, mas nada. Com tanto movimento de barcos, os pintados e cacharas, preferem ficar “presos” no fundo do rio, somente saem para caçar a noite, com certeza.

Nas águas limpas do rio Negrinho, tive a experiência, no fundo parado estavam as cachares e jaús, as iscas vivas passavam sobre eles, mas eles nem se alteravam. Os peixes somente comem quando querem e estão com fome.

Resolvemos entrar no Rio Vermelho, mas os rios estavam para o peixe e não para os pescadores. O atrativo, foi em um corixo um bando de biguás, mergulhando e pescando iscas, normalmente peixes Acaris, que existem aos milhares, nesses corixos. Esses pássaros têm uma habilidade extraordinária. De todas as aves que mergulham para pegar o peixe, nenhuma é melhor adaptada do que o biguá e o biguatinga.

Voltamos e insistimos.

Demos mais duas rodadas no Miranda, Aninha se dedicou muito, mas o peixe não queria nada mesmo. Ela manteve seu espírito alegre, mas não tinha jeito. Resolvemos subir para o Morro do Azeite, 20Km acima e tentar a sorte. No vermelho tinha muita gente.

As emoções não sessaram para mim, cada curva um poço que pesquei, cada reta um lugar onde rodamos ou corricamos. Derrepente a visão esperada, o Morro do Azeite.

Sim, me emocionei ao voltar a esse lugar, meu aniversário de 50 anos foi na base desta montanha, agora 32 anos depois, passados 2 anos de pandemia, volto ao lugar, buscando a energia que aí sempre senti. Pedindo a Deus, força e saúde, para poder voltar outras vezes mais.

O morro parece estar bem perto, mas os meandros do rio são tantos, que tem mais de 10km deste ponto, até o morro.

A escura sombra do Azeite misteriosamente se projetava nas águas do rio. Mistério, pois não havia sol, somente o céu coberto por estratos-cúmulos. Sim era um enigma. As águas planas do rio Miranda, como por uma força extraordinária, refletiam para nós naquele ponto, a perfeita imagem da histórica montanha. A imagem tremeluzia nas águas do Miranda. Ali estava a montanha e a sombra, despertando lembranças vívidas em minha mente.

Por incrível que pareça, lá do alto havia aves de rapina voando em círculos, contornando a mata, tão rente com as árvores, que quase não eram vistas. Derrepente mergulhavam, com as asas contraídas, para a caça de pequenos animais que lá vivem na solidão do ambiente onde ninguém consegue chegar.

A região do morro é histórica por que? Nos séculos passados ali viviam escravos e pantaneiros nativos, que tiravam óleo dos peixes, para serem usados nas milhares de lamparinas que acendiam, iluminando um pouco as moradias. Ali viviam em condições talvez precárias, ali nasciam ali morriam. Quantos cadáveres devem existir por todo os lados, não se sabe. Mas a montanha deve ter acumulado essas forças, que hoje irradiam pelos espaços em sua volta. Nestes mais de 35 anos que frequento o lugar, nunca conheci nenhum ribeirinho, aventureiro, que tenho subido até seu cume, diziam que era mau assombrado.

O pirangueiro que estava conosco, perguntou-me por que fariam, nas franjas deste morro, as instalações para tirar o óleo. É simples, expliquei a ele, naqueles tempos o Pantanal era realmente uma planície alagada, no período das chuvas, que eram abundantes em todo estado, a água cobria toda a planície, assim as instalações teriam que ficar nos terrenos altos, senão seriam inundadas. Mesmo em 1976, quando por aí passei, de avião, a planície na região estava inundada. A estrada ao lado do morro, tinha no mínimo uns 7m de água sobre ela. Passar somente de barco.

Minha grande felicidade em estar na frente deste morro com 82 anos. Tenho várias fotografias de recordações, fazendo aniversário à sombra deste monumento da natureza. Acredito que a primeira eu havia completado 50 anos.

Uma ocasião, com o piloteiro Tiãozinho, chegando nesse lugar, ele viu uma grande onça pintada ali no pé do morro bebendo água, tudo foi rápido eu não vi. Ele com cautela foi com o barco até lá, realmente no barro da margem do rio estavam as pegadas do grande felino. Não nos aventuramos descer para ver nada, pois se ela estivesse com filhotes era um grande perigo.

Voltando a navegação.

Resolvemos subir mesmo o Miranda, daria uns 100 Km, mais ou menos, tínhamos gasolina para isso. Pescaríamos no Aquidauana e seus corixos, seguiríamos até o Rio Touro Morto.

Os 40 cavalos do motor de popa, ia rasgando a água do rio, levantado ondas que agitavam os aguapés da margem, em ondas sincrônicas. As vezes nas margens jacarés, com suas bocarras abertas, eliminavam ao sol suas parasitas. A alegria de estar passando por essas águas é indescritível.

Bem mais à frente uma sucuri atravessava o rio, com a vibração do motor ela acelerou, depois que percorreu uns 30m, entrou pelos aguapés, sabíamos de sua passagem pela agitação longitudinal das plantas. A musculatura de uma cobra desta é impressionante, não é a primeira vez que vejo, uma sucuri, agitando aguapés, como se fosse um motor.

Any gostaria de ver e fotografar o réptil, contudo ela conseguiu fotografias excelentes das flores dos aguapés, mas a grande sucuri sumiu na mata galeria.

Foi neste belíssimo aguapé que a sucuri entrou e sumiu. Any se aproximou sem medo, para fazer essa belíssima foto da flor desta abundante e importantíssima planta aquática. Ela é a responsável pela filtragem das águas dos rios.

Nas margens dos rios pantaneiros há uma abundância de plantas, árvores e flores. Eles chamam essas abundantes flores amarelas de flores de urtiga, contudo não poderia confirmar o nome. Sei que elas são abundantes por todas margens dos rios. Logo mais à frente três grandes pés de ipês enfeitam a curva do rio. Estas árvores no pantanal são chamadas de piúvas.

Reserva ecológica do Rio Negro.

Depois de 25 Km do morro, entramos na Reserva do Rio Negro, fiquei muito mais atendo às matas e aos barrancos.

O barco ia a 48 Km/h, quando em um barranco o pirangueiro parou o motor, nos aproximamos do barro, havia as profundas pegadas de uma anta que havia estado ali naquele momento, pois o sinal era muito recente.

Anos atrás vi uma onça no barranco nessa região, falei para Any ficar atenta, mas não vimos nada, ficamos apenas na vontade.

NO PARQUE ESTADUAL DO RIO NEGRO.

O Rio Negro nasce na Serra de Maracaju, e percorre 574 Km até sua foz no Rio Miranda.

Detalhes do Parque do Rio Negro, é muito grande, tem uma área de 78.302 hectares, foi criado apenas no ano de 2000. Assim quando lá estive, com Tiãozinho, ex-coreiro, a grande área não era preservada. Em sua área existem vários ambientes representativos do Pantanal. Lagoas permanentes, cordões de matas galerias e os brejões. Locais periodicamente inundados, que são locais próprios para os peixes pantaneiros reproduzirem.

A História: Há 20 anos atrás eu e o Tiãozinho, conhecedor profundo da Reserva do Rio Negro, estávamos pescando na área, eu contei a ele que gostaria de ver uma onça ou algum animal, lá na reserva. Ele deu um sorriso, tipo dele, pois não tinha os dentes incisivos anteriores superiores. Subimos o rio mais uns 15Km, paramos em um barranco que tinha um trilho, bem batido, entrando na mata galeria. Ele me aconselhou colocar botina e passar repelente.

O trilho na realidade era um carreiro dos animais que iam ao rio. Muitos rastros, Tiãozinho identificou alguns, anta, capivaras os mais comuns, chegou notar um sinal da onça, mas acredito que foi para me animar.

Andamos uns 100 metros pelo carreiro, e saímos em um imenso banhado. O capim nativo, “capim-mimoso” estava verde rodeando as pequenas lagoas. Apenas ouvi, no início o cantar desordenado das aves, em busca de peixes nas águas rasas. O número de garças brancas, formavam um bando bem a nossa direita. Colhereiros, barulhentos com seus bicos típicos, pegavam avidamente crustáceos no barro. Um bando de pássaros vermelhos, os Guarás enfeitavam uma pequena baia. Foi uma visão inesquecível.

As curicacas, removendo o lodo atrás de moluscos, formavam um esquadrão, caminhado ordenadamente pelo banhado. Voando, em voos planados, gaviões caracarás, e urubus campeiros procuram seus alimentos, por todos os lados.

Fomos andando, em silêncio, por mais de quilômetros, como havia pedido nosso guia. Depois de passarmos de um pequeno capão de mata, Tião, levantou a mão e apontou com o indicador, um pouco mais distante um casal de Cervos-do-Pantanal, estavam pastando tranquilos o capim mimoso. Adiantamos um pouco, aí eles nos perceberam. Não se espantaram, mas com altivez levantaram bem alto a cabeça, expondo os grandes chifres imponentes e viraram para a direita saíram trotando, se exibindo a todo banhado. Deram a volta contornado a lagoa, não correram, não se alteraram, demonstraram que estávamos invadindo seu habita.

Bando de capivaras estavam por todos os lados, sempre evitando os grandes jacarés, que dormiam satisfeitos, pois segundo o “guia” eles se alimentam mais a noite de peixes.

O pirangueiro estava treinado, queria andar mais, pois ele havia visto um rastro de andas. Queria que nós a víssemos. Não achou nenhum rastro da pintada, e disse pela calma das capivarinhas, acredito que a onça veio jantar por aqui a noite, que é seu horário preferido. Cansado voltei para o barco, mas muito feliz pelo belo e frutífero passeio.

VOLTANDO A NAVEGAÇÃO.

Logo chegamos ao Rio Negro, pedi ao piloteiro que subisse um pouco o Rio Negro, por ser este rio o principal da Reserva que estávamos. Subimos uns 20 km do rio, mas além de seus meandros curvos e muito arborizados e floridos, a fauna pantaneira, que sabíamos que lá existe, não chegamos a ver nada.

Resolvemos tentar um pintado na boca do Negro X Miranda. Rodamos umas 5 vezes, mas apenas havia piranhas no rio. As águas do rio Negro, condizem com o nome, são cheias de humus, por esse motivo são transparentes, mas escuras. Dois grandes jacarés tomavam conta da entrada do rio, acredito pela fartura de peixes que ali existe, eles são os principais predadores de piranhas, mantendo o equilíbrio ecológico nos rios e corixos.

Depois de algumas rodadas, onde somente pegamos piranhas, mesmo encantados com o lugar, desistimos e seguimos a navegação, para o Rio Aquidauana.

Eu estava ávido para pegar um grande pintado. Chegamos na foz do Rio Aquidauana, quantas recordações de décadas passadas, quando lá havia um hotel flutuante, era realmente selvagem, para chegar lá saíamos de barco da cidade de Miranda, e era 250 Km de rio e 7 horas de navegação, até este lugar maravilhoso. Para ter ideia do lugar, um dia saí do quarto e havia uma grande sucuri na porta. Espantei bastante, mas o cozinheiro me acalmou: Não liga não doutor, ela vem sempre aqui, é somente espantar que ela vai embora. Simples assim!

Na minha passagem na ponte do Rio Miranda, no Salobra tive oportunidade, de recordar fatos do passado relativos ao hotel Flutuante.

Com tantas recordações na memória, passamos direto, e subimos o rio Aquidauana, paramos na boca do Rio Carrapato. Somente pessoas como o pirangueiro, que conhecem mesmo o lugar, para diferenciar os corixos, dos rios e seus afluentes.

Deu uma sorte louca, pois na segunda rodada, peguei um grande pintado. Meu equipamento de pesca é delicado, para tirá-lo da água foram uns 30 minutos de briga. Fiquei super realizado, pois há mais de 2 anos que eu não pescava.

A grande vantagem de pescar com equipamento delicado e linha fina, é que temos que nos esmerar, na luta com os peixes, o barco tem que ser solto, acompanhando um pouco a vontade do pintado.

Aí está o espécime pescado, um grande pintadão. Para soltá-lo, que é a norma na pesca esportiva, temos que fazê-lo com cuidado. Pois o peixe está esgotado pela luta, com muito pouco oxigênio, ainda meio tonto, pela experiência de luta que passou. Para soltá-lo temos, que segurá-lo na beirada do barco, para ele respirar, fazendo grande volume de água passar por suas guelras, quando ele está bem esperto, ele luta para sair, aí o soltamos. Se o soltamos antes, as piranhas, os devoram rapidamente.

O lugar deu sorte todos nos divertimos muito. Todos pegamos peixes. A natureza na região do Rio Negro é pródiga em vidas.

Na frente da boca do rio Touro Morto, mas na margem direita do Aquidauana, tem um belo rancho de pescadores. Lá eles têm um casal de tuiuiús mansos. É só encostar a canoa que eles vêm loucos para ganharem uma isca de peixe.

Na boca do Touro Morto, havia um grande jacaré, grande mesmo, era dono do pedaço, nenhum outro jacarezinho tinha audácia de vir “pescar” ali, um que veio levou mordida.

Peixes pegos, sorrido dobrado, para mim a pescaria, é estar em contato com a natureza, renova totalmente minha mente. Incrível as coisas que gostamos e nos dá satisfação, os obstáculos desaparecem quando vamos realiza-los. Mil e duzentos quilômetros de estrada, cem quilômetros de rios, tudo desaparece no transi da emoção. Parece que tudo se resume, naquele espaço e naquele momento.

Uma emoção prazerosa vale mil palavras. Mas mil palavras podem não valer uma emoção.

Ótima hora para o almoço, uma quentinha esperta, nesta hora tudo é gostoso e saboroso no meio do mato, quando todos pegaram seus exemplares e estão felizes. Dois ovos fritos, um arroz aproveitado, proporcionam uma bela refeição.

Na boca do Touro, Aninha, faturou um bom e briguento peixe, era uma piranha tão grande que parecia uma caranha.

Ninguém podia com ela pois logo em seguida ela faturou um belíssimo pintado, que deu trabalho para ser tirado da água, mas ela dominou o pescado com categoria.

A pesca e o companheirismo, sempre que pesquei, nesses longos anos de vida, este binômio sempre presente, proporcionou momentos especiais e animados, pelos rios de todos os lugares.

Menino na Fazenda Taquaruçu, meu companheiro era o filho da dona da fazenda, Tia Clarinha, o José Cássio. Quantos lambaris pegamos, para dar ao Tio Caetano, pegar as briguentas tabaranas. Depois de formado pesquei com José Cássio no Pantanal. Um CA terrível levou meu primo e companheiro.

Na faculdade por 20 anos meu companheiro foi o colega Alfredo Nuti, que afinidade para a pesca nós tínhamos, era incrível, também ele partiu. Este amigo, além de ótimo companheiro de pesca, era meu copiloto em minhas viagens de avião.

Anos se passaram, outros companheiros eu tive, como estão vivos não mencionarei seus nomes, mas eram dois, grandes companheiros, que hoje não têm condições de pescarem mais, por problemas físicos.

Depois, tive o prazer de pescar e caçar, por muitos anos com um primo de Araçatuba, Augusto, com ele, que era dono de um grande rancho no Passo do Lontra, pescamos muito, incluindo a pesca nesta região que estávamos.

Nos últimos dez anos o prazer aumentou, pois minha mulher tornou-se minha companheira de pescaria. Animada e supereficiente, em todos aspectos, como veremos nessas histórias e outras que já contei.

A diferença entre as duas fotografias, de 3 km é o deslocamento que fazemos para pesca, procurando o peixe.

Fizemos um deslocamento, fotografei o GPS, estávamos na velocidade de 52K/h, tínhamos andado 121 quilômetros desde a saída do hotel e estávamos a 102 metros de altitude, isto é, a 10 metros acima do hotel, por esse motivo que as águas dos rios correm mansas no pantanal

Eu também tive oportunidade de pegar mais um belo exemplar de pintado. Foi uma pescaria bem dinâmica, grandes emoções. Para mim o Pantanal sempre foi maravilhoso.

O cardume estava na barra das águas limpas do Touro e as sujas do Aquidauana. Depois de oxigenar bem o peixe Aninha o soltou feliz da vida. Pela fotografia pode-se ver que minha companheira está super realizada.

Ela estava com muita técnica, logo pegou no mesmo lugar praticamente outro pintado. Se ela não tivesse soltado o primeiro, não acreditaríamos que houve o segundo.

Como diz sempre meu companheiro Éder, a pescaria teve muitas ações felizmente. Valeu muito a pena.

As pescarias com Any faturando os pintados não terminaram neste dia. O peixe nobre, é esportista, luta bravamente quando pego. Como já relatei, precisa cuidado, para soltá-lo depois de tanta luta.

Á tarde foi de muita ação, havia muitos peixes na boca dos rios. Mas as grandes piranhas dominavam o ambiente. Se a isca fosse lançada nas águas barrentas do Miranda, era imediatamente abocanhada pelas vorazes piranhas.

Esta fotografia da Any ficou perfeita para mostrar as águas limpas do Rio Touro Morto, sendo represada pela corrente, mais forte do Aquidauana. Este encontro das águas acontece em muitos lugares, o mais importante para nós brasileiros, é o encontro do Rio Negro, com o Rio Solimões em Manaus, formando o maior rio do mundo o Amazonas. As águas logo não se misturam devido a dois fatores, densidade e temperatura diferentes.

Na foz do rio, houve uma grande batalha entre as lontras, duas lontras do Aquidauana, tentaram entrar no Touro Morto. As três do Touro, entraram em luta, com os invasores, aos gritos agudos e carregados de raiva, a batalha foi tumultuada, gravamos, rodaram pelas águas em perseguições ruidosas. No finalmente pudemos fotografar o macho dominante, gritando vitória e subindo para sua casa no Touro Morto.

A batalha acontecendo, a pescaria não foi interrompida, mas durante o conflito não pegamos nada, nem as piranhas atrevidas, ousaram atuar durante a guerra territorial das lontras em fúria.

No limite das águas, os dourados pulavam pegando iscas, mas nenhum quis pegar a isca artificial da Any. As lontras foram para seus territórios, a calma voltou aos rios, mas os peixes ainda ficaram afastados da disputa.

Os peixes alvoroçaram e o grande jacaré aproveitou para pegar um peixe para o almoço. Estava calmamente voltado ao seu lugar. Ficou claro que o grande aligátor, pouco se importou com as lontras bravias, aproveitou o tempo e foi pegar uma grande piranha.

O tempo foi passando, no entusiasmo da pescaria esquecemos do relógio, aí o pirangueiro alertou, se não saímos para o hotel logo, somente a noite chegaremos lá.

Eu disse, andar a noite no Miranda, com essa grande quantidade de árvores, troncos, entulhos, descendo a correnteza é suicídio, vamos Uander, abastece os tanques e vamos descer os rios.

A VOLTA PARA O HOTEL.

A água do rio àquela hora da tarde parecia um espelho, refletindo a mata galeria, e as nuvens brancas no azul do céu. O barco andava a grande velocidade, contornando as sinuosas curvas do rio. Olhando o GPS as vezes parecia que estávamos voltando e não indo para o destino. A saudade que eu sentia destas navegações pelos rios, fez meu coração e minha alma agradecer a Deus por estar ali, quase 36 anos após a primeira vez, que lá estive com o pirangueiro Tutu, e meu barco Super Alumar, quando hospedado no flutuante. Jamais esquecerei, que com a velocidade que Uander descia agora de dia, o Tutu descia a noite, com o claro apenas das estrelas, era emocionante. Ambas experiências são inesquecíveis.

Em minhas lembranças passadas, neste rio Aquidauana, ele era mais estreito e muito mais fundo, Deus queira, que a erosão da Serra do Maracaju, não esteja depositando seus siltes no leito do Aquidauana, como ocorreu em outros rios, como o Taquari.

Como sempre digo, conheço um grande número de rios, mas realmente cada um tem suas características próprias, quando por eles navego, principalmente depois do uso do GPS, vou tentando guardar na memória suas nuances e peculiaridades, isso torna meu navegar mais emocionante e lógico.

Por este motivo que senti o Aquidauana diferente, há anos passados ele parecia um pouquinho mais estreito, e suas curvas mais fechadas. Se estiver ocorrendo um pouco de assoreamento, o mesmo fluxo de água, necessitará de mais superfície para fluir, isso muda a formas das curvas do rio. O que acarreta muito maior depósitos de aguapés ao longo das margens.

O piloteiro atencioso, tirou a aceleração respeitando o grande jacaré-do-pantanal que atravessava o rio. Pelo movimento das águas acreditamos tratar de um grande animal. Quando conversei com companheiros, deduzimos que por ali deveria haver um ninho de jacaré, e esse estaria tomando conta da ninhada, por esse motivo agiu desta maneira com nossa abrupta aproximação. O Pantanal e seus mistérios.

O rio Miranda estava logo à frente quis guardar esse lugar em minha mente, pois essas águas que nasceram nas encostas da Serra do Maracaju, depois de 528Km, perdiam sua identidade, ao desaguar no grande Rio Miranda. Sempre acho esses lugares importantes, pois as condições da água é uma, e após o encontro são outras certamente. O Aquidauana, dá suas águas, formando um novo rio, apenas eles mantem o nome.

Apenas o Rio Solimões na Amazônia, perde o nome quando recebe o Rio Negro, e passa a se chamar Rio Amazonas.

Entramos velozmente no grande rio Miranda, o sol no poente marcava o rumo de nosso destino. Sabíamos que estávamos a 80Km do Passo do Lontra. Haviam muitos pescadores em toda a região destes rios, pois na área existem dois hotéis de pescadores. Bem na confluência dos rios, existe um posto da Polícia Florestal, bem grande, incluindo torre de recepção, contudo em todas as vezes que lá passamos eu nunca vi ninguém no posto.

O piloteiro apertou a manete no máximo, o GPS marcava 52 Km/h, na subida viemos na média de 47 Km/h, Podemos concluir grosseiramente, que a correnteza do rio em média é de 5 Km/h, a altitude da região pelo equipamento é de 100m, a altitude no hotel era 90 metros, significa também, com possibilidade de erros, o rio Miranda nesses 80 Km desce 10 metros, pelo Pantanal.

O Sol marcava o destino, mas o morro do Azeite, interrompia a rota, em meandros pronunciados. O trânsito de embarcações na região era grande, as águas do rio se agitavam, ao misturar ondas. Os raios do sol, como um pincel gigantesco, traçavam nas águas do rio, imagens artísticas das árvores da galeria do Miranda, formando quadros inesquecíveis.

Eram luzes refletidas nas águas, contrastando com o escuro das sombras, as margens do rio que passavam velozmente, enfeitavam o caminho, como dizia Guimarães Rosa: “Não importa, a saída nem a chegada, o importante é o trajeto”. Naquele momento, as distâncias não existiam para mim, cada espaço era um quadro da natureza, cada imagem uma emoção. E, felizmente, isso acontecia a todo momento no Pantanal.

Antes do morro, passamos por esta elegante chalana de pescadores. Existem músicas falando destas embarcações subindo o Rio Paraguai. Na realidade, para mim, isso é um quadro de rara beleza, o barco, lentamente subindo a corrente de águas pantaneiras, tão lento, que tudo nele parecia dormir, as pessoas no segundo piso, pareciam paradas a espera de alguma coisa, ou talvez não, estariam como eu, extasiadas vendo o fim do dia.

Lembrei da minha chalana Sheikinah, não senti saudade, pois ela nos serviu mais de 30 anos. Mas realmente a tarde, as águas do rio, me fez recordar em imagens vivas, como um caleidoscópio de cores e sombras, iluminadas pelo sol poente, minhas navegações pelo grande rio Paraguai.

Como tive oportunidade de dizer, no meio da planície, a natureza ergueu essa montanha. Em uma hora como esta, eu senti claramente o força e o significado desta imagem projetada na água. A canoa ia a grande velocidade, mas a imagem ficou estática, como um símbolo da existência, de alguma coisa além de nosso conhecimento. O sol brilhando, jogando a exata sombra de tudo nas águas, movíamos, mas as imagens eram estáticas, desafiando nossa imaginação.

Passamos correndo pelo contorno do morro, as ondas brancas se contrastavam com as sobras. Nesse momento tudo voltou ser dinâmico, na cinética de nossa velocidade. As águas revoltas, pareciam um tecido querendo conquistar as sombras.

Paramos para abastecer o motor, seria a última parada. O barco foi descendo ao sabor da corrente das águas, o GPS mostrava que estávamos a 3 Km/h, o significado disto é motivo para pensarmos. O sol iluminava a margem direita do rio produzindo lindos quadros, durante o entardecer.

O pôr do sol continuava criar lindos quadros na natureza, que íamos admirando, pois as imagens vão passando conforme as águas levam a embarcação. Incrível quando somos jovens e piloteiros, nesses momentos, estamos abastecendo o motor de popa, vendo tudo na embarcação, e nunca olhamos as belezas do ambiente. Será que sempre, precisamos ser velhos para ver o belo, além do horizonte de nossos desejos?

CHEGAMOS AO HOTEL FELIZES PELO PASSEIO.

A tarde chegou com a mesma velocidade com que aportamos o barco no deque. Carregando toda a traia fomos para o apartamento, no caminho encontrados essa fêmea de mutum maravilhosa caminhando garbosamente, para se encontrar com as companheiras.

Esta ave era comum na Mata Atlântica, conforme houve os desmatamentos, destruindo seu habita, ela foi indo para o Oeste, cada quilômetro desmatado, era um quilômetro recuado. O mutum, era a carne preferida dos desbravadores do nordeste. Os Mutuns, os Jacus, os Jaós, foram se afastando durante os séculos das conquistas, hoje encurralados, ainda conseguem viver no Pantanal, daí a importância destes sobreviventes.

A noite estava tranquila, tirando o ataque dos pernilongos que estavam terríveis. A lua subiu aos céus, entre as árvores, depois despontou, iluminando as nuvens. Any quis fotografar-me para guardamos esse momento tão importante e bonito.

Andamos pela longa passarela, vendo os pirilampos tremeluzirem nos escuros do chão. Vimos a lua cheia, se esconder atrás dos cúmulos brancos, formando rendas brancas no firmamento iluminado. Eram luzes e sombras, os contrastes se alteravam ao caminharmos pela longa passarela.

DIA 18-04-2022. segunda-feira, descemos o Rio Miranda, até o rio Paraguai.

Recordando: Quantas vezes décadas atrás descíamos 18 Km de rio até o Corixo Santa Clara, e com caranguejos, pegávamos grandes caranhas, e satisfeitos voltávamos para almoçar.

Outras vezes, descíamos 25 Km, até o Corixo da Onça, pois nas palmeiras ao lado havíamos visto uma pintada, e lá havia uma corredeira, de onde tiramos vários dourados, e depois debaixo das árvores, almoçámos tranquilos, com a cota realizada.

Agora era emoção, três anos depois, saímos com destino ao Rio Paraguai: Fomos navegando em busca de pescarias, e fugindo das dezenas de pescadores que veem sempre ao Passo do Lontra que ficou muito famoso. Ultimamente, em cada poço uma canoa, em cada reta uma ou várias canoas, rodando em busca dos peixes. Assim fomos descendo cada dia mais, hoje decidimos ir até o Rio Paraguai, 85 Km à jusante, de onde estávamos.

Felizes e preparados partimos para a Foz do Rio Miranda no Rio Paraguai, seriam 85Km de meandros conhecidos, mas esquecidos pelo tempo que fiquei ausente. A saída foi emocionante, passaria pelos lugares de recordações felizes de tempos passados, desde o Hotel do ASA, que foi o pioneiro, em 1978 nos convidando pessoalmente, em Ribeirão Preto, para conhecermos, o então selvagem e desconhecido Passo do Lontra.

Depois chegamos ao Rancho Araçatuba, que foi interditado pela polícia florestal, estão em demanda. Meu estimado primo Augusto, é um dos 10 donos do Rancho, todos são pecuaristas famosos da cidade paulista. Cada um deu o equivalente a 10 bois para a compra do senhor Tozzi, um grande pecuarista, que havia, com muitíssimo esmero construído o imenso “rancho” que mais parece um hotel.

Dezenas de vezes, com meu primo me hospedei aí, ele faz aniversário dia 17 de abril, isso é um dia depois do meu, assim muitas vezes passamos aí comemorando as datas, saudade!

Tenho na lembrança alguns fatos marcantes do passado aí nesse rancho:

Primeiro, um cardume de curimbatás, que estava subindo o rio Miranda de mais de 4 Km de extensão. Atrás do cardume, os dourados e peixes de couro faziam a festa. Era um reboliço em todo o rio. Quando o cardume chegou acima do Rio Vermelho, grandes barcos de pescadores, com redes de arrasto, retiravam do rio toneladas de peixes, uma “carnificina” incrível.

Segundo: Uma noite, depois do jantar, o rio começou a fazer um barulho que parecia estar chovendo. Pegamos as lanternas e fomos ver. Eram milhões de lambaris branquinhos, subindo o rio, quando os faróis iluminavam as águas, a luz se refletia parecia um fluxo de pratas esvoaçantes. Os lambaris, tentavam voar, pois os predadores por baixo da água, faziam o ataque. As duas canoas que estavam no porto, ficaram lotadas de lambaris, ao pularem caiam dentro dos barcos e não conseguiam sair.

Nunca presenciei, cardumes de peixes subindo o Rio Miranda.

Paramos para conversarmos com o caseiro que há 8 anos toma conta do rancho, ele está apreensivo, com a situação. Quem toma conta de tudo é o Armandinho, cunhado mais novo do Gustão. Espero que logo eles resolvam o problema. Parti do lugar, carregando 20 anos de saudade de aventuras e alegrias passadas, ali naquele lugar.

No ano de 1987 deu uma grande enchente no pantanal, e essa ponte de madeira rodou rio a baixo. Quando fomos pescar a travessia do rio era feita com uma balsa muito simples, que cabia apenas um caminhão e duas outras caminhonetes. Assim as vezes a travessia era demorada.

Agora foi possível ficar feliz com a ponte nova, que permite até embarcações grandes passar por baixo, mas não passam pela ponte velha.

Logo que iniciamos a descida do rio passamos por uma Anhuma, que nos observou aos gritos desafiadores. Talvez pensando que íamos mexer em seu ninho, com filhotes novos, no meio do aguapé.

Absolutamente não íamos importunar os filhotinhos da anhuma, a Any apenas queria fotografar as flores das plantas ribeirinhas, que estavam muito bonitas, e marcavam a presença por grandes espaços do rio.

Depois partimos rapidamente descendo o rio, os lugares que eram conhecidos passavam, e as lembranças corriam pelo tempo, parecia uma ciranda, a rodar as curvas do rio. Depois de 2 horas de navegação resolvemos parar em uma sombra para almoçar.

Antes de aportarmos, pedi ao amigo deligar o motor deixar o barco rodar um pouco pelas mansas águas do rio. Ao longe, emocionado vi a Serra do Urucum, ao norte no final deste maciço de ferro e manganês, está a famosa cidade de Corumbá, a chamada capital do Pantanal.

O barco estava rodando lentamente pelas águas do Miranda, certamente já estava sobre a influência do represamento, das fortes águas do rio Paraguai.

Como observamos nessa região o rio torna-se bastante largo, e suas águas são mais lentas. Realmente a quentinha que nos fizeram, era para um moço com fome como o piloteiro, mas para mim era excesso.

Lá parado no meio do alto capim da margem, sentindo a leve brisa que corria pela imensa planície, ouvindo o som das aves dos banhados da região, tentei recordar do tempo e da posição que estávamos na planície pantaneira. Depois que nos alimentamos, guardamos todos nós um silêncio, imposto pelos distantes limites do espaço, olhei atentamente para o mapa do GPS, tentando me situar, foi um maravilhoso e inesquecível momento. Queríamos naturalmente partir, mas a nostalgia do lugar nos segurava. Eu queria fazer algumas observações aos companheiros, mas o silêncio do momento, parecia uma cortina invisível, a me insolar de tudo na contemplação dos espaços e nas lembranças vívidas do passado.

Sem nada dizer, como se todos estivéssemos emocionados pelo lugar, pelas visões, o piloteiro, em silêncio ligou o motor de popa e partiu para o destino, a foz do rio.

O computador mostra exatamente o lugar que paramos para o “fausto” almoço da quentinha. As curvas do rio se sucedem até a reta final. Em grande parte de minha vida, de minhas pescarias, caçadas e viagens, não conhecia o GPS, se muito me engano, eu achava tudo longe, as viagens eram aventuras reais em nossa mente, o desconhecido era na próxima curva, a surpresa era a chegada.

Somente fiz o curso do GPS, na sede da Maré Alta, em São Paulo, em 1995, por sinal tenho todos os equipamentos antigos ainda guardados até hoje., desde aquele tempo.

O GPS, mostra que estamos a velocidade de 46,9 Km/h, e tínhamos navegado 93 Km, e estávamos a 87,6 metros de altitude, havíamos descido apena 8 metros do Passo do Lontra até o Rio Paraguai.

O LUGAR É IMPORTANTE – A FOZ DO MIRANDA COM O RIO PARAGUAI.

Nessa região do Rio Paraguai, em sua margem esquerda, onde estávamos, existem muitos aspetos e fenômenos que já observei e merecem considerações especiais.

Várias vezes que passei de avião nessa região, onde os rios: Abobral, Negrinho, Miranda, Taquari e o grande Corixo Paraguai Mirim, desaguam no Rio Paraguai, ocorre o extraordinário fenômeno da purificação das águas. Os rios superiores, jogam suas barrentas águas, na vegetação inundada e nos aguapés, elas caem nas calhas inferiores limpas, é incrível esse fenômeno. Todos as águas destes deltas dos rios citados, são filtradas pela vegetação aquática, se misturam como se fossem uma única água, e aí cada uma no seu tempo caem no grande Rio Paraguai.

A imensa massa de água do rio mestre, se posiciona como uma barreira líquida, moduladas pelas densidades dos afluentes que aí chegam, e somente se misturam quando mais limpas.

Um mundo de águas azuis, que se perdiam nas distâncias do grande rio, a montante, mais de 130 Km estavam as cidades de Ladário e Corumbá, unidas pelas ruas, e separadas pela história.

A barrenta água do Miranda, represada pelas potentes correntes do Rio Paraguai, torna esse lugar uma célula de estabilidade, onde os grandes peixes de couro, vão se alimentar com os menores, que ali transitam. O lugar é ótimo, e a chance de pegar um pintado é grande.

No encontro das águas não existe correntes, ou fluxo de águas, elas estão barradas. Escoam mais a montante, onde penetram pelas vegetações ribeirinhas, formando milhares de pequenos corixos, que vertem suas purificadas águas no grande rio. Este milagre dos rios Pantaneiros, já os descrevi décadas atrás. É um fenômeno incrível, essa ecologia dos rios.

Enquanto, isso ocorrer, o Rio Paraguai manterá seu fluxo e seu curso, permitindo um tráfego fluvial extraordinário, o que não está ocorrendo com seus principais afluentes, com o Taquari, por exemplo.

Importante eu deixar minhas conjeturas de lado e voltar a pescar.

Realmente depois de duas rodadas, eu peguei este belo pintado, dada a correnteza forte do rio Paraguai, a luta para tirar o peixe da água vale a pena.

Depois de um tempinho, começamos a ouvir um potente ronco de motor, logo a jusante das águas aparece no rio uma barcaça imensa de carregar minério, subindo o rio. Ela era descomunal, tinha quase 400 metros de comprimento. Subia lentamente o rio, acredito ter demorado mais de meia hora para passar pela foz do Miranda. Segundo tenho informações ela carrega uma média da carga milhares de caminhões de minério.

O piloteiro, também pegou vários pintados, foram momentos de ótima pescaria esportiva. Na margem do rio Paraguai, a nosso lado, havia uma moradia modesta de pescadores profissionais, enquanto passávamos pegando peixes, alguns deles nos olhava de uma maneira diferente. Cheguei ficar preocupado, contudo, nada aconteceu. Continuamos, em nosso entusiasmo pegando e soltando, sem nenhum incidente.

A postura de minha mulher Any depois de várias ações demonstram a alegria que estávamos aí no lugar. Como diz o velho ditado, “um dia do peixe ou do pescador”. Esta tarde era dos pescadores.

A barcaça continuou passando, nós ficamos impressionados, com o tamanho e a potência que estes motores deveriam ter. Na grande embarcação, havia uma torre completa de sonar, radar e ADF.

Realmente o Rio Paraguai é a espinha dorsal da economia do oeste do estado. Muitas teses e estudos têm sido feitos sobre a manutenção deste rio. Para que ele continue cada vez mais navegável, evitando o assoreamento que está acontecendo em seus afluentes.

O ano passado, 2021 foi de muita seca no rio, suas águas abaixaram tanto, que as grandes chatas não puderam passar. O escoamento dos minerais da Serra do Urucum, teve que ser rodoviário, causando enormes prejuízos para todos. O movimento, super aumentado na estrada, foi possível documentar, este fato quando viemos. Assim ver esta enorme chata indo buscar minério em Corumbá, é uma visão maravilhosa e muito importante, para todos nós brasileiros.

Estávamos a quase 100Km do Passo do Lontra. Havíamos divertido muito, muito mesmo, matado a saudade do lugar. Importante também foi ver a enorme chata subindo a hidrovia. Tudo isso nos trouxe muita alegria.

O grande sol alaranjado já mostrava seu destino para o lado da Serra do Urucum, o Rio Paraguai cheio, as chuvas vieram abastecendo bacia do rio, pedi ao piloteiro, que desse uma volta, pelos numerosos corixos, da baixa região do encontro das águas. Tinha lembrança de um corixo, que se ligava ao Rio Abobral, o Uander não conhecia e eu não o encontrei.

Dobrou o cabo do acelerador e partimos rio acima, com entusiasmo, para vermos o entardecer nessa região maravilhosa, para onde caminham as águas, para onde correm os corixos, para onde migram os grandes peixes, após a fase da piracema.

E, o mais importante, é nessa miscigenação das águas, de rios, corixos, nessa imensa área de “deltas” é que ocorrem a purificação em grande parte das águas que vêm do planalto mato-grossense.

Quando subimos o rio o sol fica a maior parte do tempo em nossas costas, fato que propicia lindas imagens durante toda a subida. Não havia vento, a água do rio um tapete líquido, por onde o barco deslizava sem nenhuma vibração, nas curvas do rio em virtude do sol poente as paisagens iam mudando em câmara lenta, lindas, lindas, ora brilhantes, momentos escuras e frias.

O ronco constante do motor de popa obstruía os sentidos. Parecia que nesses momentos, somente a visão estava atenta, somente tomei conhecimento deste fato, quando depois de hora e meia de viagem, ele parou para abastecer. Aí comecei ouvir novamente os sons do pantanal. Tudo começou com a gritaria assanhada dos aracuãs em uma grande árvore, que alegria foi escutá-los e os ver agitados pulando de galhos em ganhos, e fazendo curtos voos batendo ruidosamente as grandes asas.

Uma saracura três potes, nos acompanhou pela praia da margem enquanto o barco descia à deriva. Depois entrou correndo pelo capim, e emitiu seu harmônico canto dividido em três etapas, daí seu nome.

Um quilômetro acima, existe uma fazenda, em sua divisa dois jaburus muito grandes e mansos ficam à espera de comida. Paramos um pouco acima, e jogamos dois curimbatás pequenos no chão. Eles vieram correndo pegar e ficaram esperando mais. Ficaram parados como estátuas, um ao lado do outro, na certeza que ganhariam mais. E, ganharam.

Três ou quatro curicacas, mexiam nas águas do corixo, em absoluto silêncio, pois dois gaviões caracarás, faziam voos planados sobre o corixo, dois cafezinhos também de nome jaçanãs, corriam rápidos se escondendo nos aguapés.

O lugar era muito rico, havia umas 20 vacas mestiças pastando, e ao lado delas um grande número de garças brancas boiadeiras, de quando em quando pulavam nos animais capturando uns carrapatos estrela, cheios de sangue. O gado andava, pelo pasto, e o bando de brancas aves iam atrás. Uma bela homeostase, uma matava a fome o outro ficada sem as parasitas que chupavam seu sangue.

O tempo foi passando, notei os companheiros impacientes, com minhas observações, por um tempo, fingi não perceber, mas depois, piloteiro falou: Vamos doutor! Disse sim, ele ligou o motor e partimos rapidinho.

Depois de muitas emoções pelos tortuosos meandros do rio, vendo as sombras e as escuridões da tarde, chegamos à ponte do Lontra.

Moderna ponte, contrasta muito com a velha de madeira. Não saberia explicar o motivo, talvez as lembranças do passado, o tempo que o cervo-do-pantanal pastava na proximidade do lugar.

Lembrei-me do barulho das madeiras roçando umas nas outras quando alguma rara condução passava. Do trote dos cavalos que por aí passavam, conduzindo a boiada, com ruídos característicos e o sonoro e insubstituível som grave do berrante pantaneiro chamado o gado, no fim da ponte.

Hoje, apenas grandes caminhões boiadeiros, passam pela nova ponte, com os bois, escondidos e espremidos nas imensas gaiolas do transporte.

Não consigo ver mais muita poesia no Passo do Lontra, a áurea de um passado distante, acredito, que o progresso levou! A nossa idade não é complacente nessas horas, as agráveis lembranças do passado, nos traz um pouco nostalgia no presente.

Como esquecer de um Tiãozinho humilde, mas profundo conhecedor das trilhas, dos corixos pantaneiros. Do silêncio nas rodadas, pelas retas, onde era possível ouvir a linha de aço cantando ao cortar as águas, pela cachara brigando. Como esquecer de um corixo, que saia do Rio Miranda, e contornando a Fazenda Santa Clara, saia no Rio Abobral, onde milhares de biguás faziam a festa em cardumes de sardinhas. Os Carões, com seu choro interminável, marcavam árvores nas galerias dos rios.

Nas estradas era barro, no pantanal era água, nos morrotes haviam os bichos, porco monteiros, cervos-do-pantanal, as vezes uma anta em trânsito, e raramente uma onça foi vista. Os pequenos peixes depositavam suas ovas nas gramíneas das envernadas, quando as águas partiam eles partiam também, e nas saídas dos corixos, serviam de alimentos para os grandes que retornavam da piracema. Era a vida do bioma pantaneiro.

O barco a 50 Km/h, logo passou pelos quilômetros acima da ponte até o ancoradouro. O vento forte da viagem levou para longe minhas velhas recordações, de um passado que talvez somente eu o tenha na mente, ainda!

  • Any desceu do barco, cansada de tanto tempo sentada, mas feliz pela pescaria. Fomos ao apartamento, e resolvemos caminhar pelos quilômetros de passarelas, para esticar os músculos e vermos a mata galeria.

As passarelas são longas, com espaços onde elas balançam ao compasso do caminhar. Uma família paranaense, estava voltando, pois, a mulher ficou com medo de tudo cair. A tarde estava maravilhosa, o sol do poente vermelho, dava coloração no ambiente. Um bando de cardeais, de topete vermelho e corpo branco, saltitavam sem parar pelos galhos. As saracuras três-potes, ditava os sons na mata em pontos indefinidos. Os aracuãs, faziam uma algazarra por muitos lugares. A natureza em festa, despedia da luz e se preparavam para a noite.

Eu e Any, estávamos tão felizes, e achamos importante imortalizar aquele momento maravilhoso. Sempre me pergunto, como guardar tantas emoções que sentimos durante uma vida. Eu procuro guardá-las separadas por momentos em que vivi. Esses momentos, não são herméticos, uns sempre interferem em outros. Como esquecer esse por exemplo, não posso! Pois a imagem que tiramos, cria um espaço em meus sentimentos, de profundas recordações, quando as vejo, incrível, mas sons, cheiros, a própria sensação física, se mistura com a espiritual. Seguimos sempre em frente, lógico, mas são essas sensações que moldam nossa existência.

A noite chegou, e com ela novas emoções tivemos. Com um novo olhar nessa noite, vimos tudo que ainda estava presente, mas não no mesmo lugar, as cenas mudam, com o caminhar da lua.

A grande lua, parecia um olhar celeste, vendo nuvens congestas passarem lentamente, ora dando espaço a luz, ora interpondo. Nesses momentos, para onde iria a luz impedida de vir? Voltaria ao espaço, buscando um novo planeta, ou se perderia, no infinito das dimensões.

Eu e um professor de física, um dia ficamos conjecturando, para onde iria a luz, perdida nas imensidões vazias do espaço. Será que buscam o infinito, e no fim voltam clareando o éter.

Nosso caminhar foi ficando mais lento, nesta noite, as distâncias mais longas, a escuridão mais presente, achamos era hora de recolhermos e nos preparar para o próximo dia.

DIA 19-04-2022, terça-feira, subimos o rio Vermelho.

Depois do café, fui para o deque ver se tudo estava certo para a pescaria. Mas tive uma surpresa. Eu sempre digo que todo rio tem sua personalidade, mas hoje, como estava o Rio Miranda?

Carrancudo e triste, não era para menos. Todas as sujeiras do temporal a montante da região, que haviam lançado no rio toneladas de galhos, troncos e folhas, estavam fazendo um desfile macabro pelo Passo do Lontra.

Não resta dúvidas, era triste ver aquele desfile de árvores mortas passarem pelo fluxo do Rio. Apenas na linha da água estava mais limpo. Para nós pescadores a linha da água, são lugares especiais. O que é Linha da Água?

O fluxo da água corre pelo leito central do rio, no caso aproximadamente a 5 km/h, mas quando esta água encosta nos barrancos, encontram inúmeros obstáculos, são pedras no fundo e nas margens, são raízes das árvores de margem, isso detém um pouco o fluxo. Assim, o encontro as vezes destas águas, perto da margem, de diferentes velocidades, cria uma linha divisória, que é chamada de linha da água. Quando o obstáculo é muito grande a água forma grandes rodamoinhos, fazendo as águas dançarem em círculos as vezes imensos, formando poços ótimo para a pesca. Geralmente, na linha de água os peixes permanecem facilitando a pescaria. Outro fator importante, os peixes nestes pontos, estão nessas células das águas, estão com fome e saíram para a caça, é a hora da pescaria esportiva.

Por este motivo, usar redes, arpões e outros meios para pegar peixe, é antiesportivo, e deprimente para nós.

Conversando com o piloteiro, ele nos contou que, havia um lugar onde o Rio Negro, havia destruío o barranco da margem direita, e arrombando tudo, jogou suas águas vindas desde a Serra de Aquidauana, nas limpas água do Rio Vermelho, em sua margem esquerda. Isso seria um desastre para a Reserva Ecológica do Rio Negro, e comprometendo muito o fluxo do Rio Vermelho. Seria triste esse fato.

Por esse importante motivo, decidimos ir até a montante do Rio Vermelho e documentar esse lamentável acontecimento, isso é, um rio importante de uma reserva, jogar suas águas em um outro rio. Como digo, cada rio tem sua personalidade, sua ecologia, seus animais e peixes, a mistura sempre prejudica a ecologia.

Há décadas passadas eu documentei, um fato, igual a esse, quando o Rio Taquari, arrombou sua margem direita também, e jogou suas águas no Rio Negrinho, provocando uma inundação da mata, com sérias consequências, pois matou todas as árvores de uma imensa região. Escrevi um artigo que foi publicado: “A Floresta das árvores mortas”.

Em 1990, eu estive com meu barco Shekinah, comandante Paito, bem no lugar onde o Rio Taquari, havia arrombado o Negrinho, e a floresta imensa do rio, foi inundada pelo grande Taquari, eu previ que todas essas árvores morreriam, pois não eram capazes de suportarem a inundação.

Em 1994, voltei na região e pude constatar que todas as árvores haviam morrido, aí publiquei um artigo longo, falando da: FLORESTA DAS ÁRVORES MORTAS. Esta fotografia, é da televisão Bandeirante, onde dei uma entrevista sobre o assunto.

,

Em 2003, com os amigos e sócios do Sheikinah resolvemos voltar ao Negrinho, que é afluente do Paraguai-mirim, vimos o que esperávamos, as arvores apodreceram e sumiram, tudo se transformou em gramíneas e aguapés flutuantes. As árvores sumiram, e a vida também.

Estas fotografias da tela da televisão tiradas por amigos durante a entrevista.

Como já mostrei o Rio Vermelho desagua no Miranda 20Km a montante do Hotel. A subida foi tranquila, e logo entramos no rio.

Subir o rio é uma experiência emocionante, pois a mata galeria é muito rica, as águas são limpas e mansas, o barco contornava as curvas dos meandros, a 50 Km/h, propiciando uma expectativa constante de novas imagens, e talvez de surpreendemos uma onça, ou outro animal pantaneiro.

As belas paisagens se alteravam a cada curva, margens enfeitadas por milhares de flores amarelas nos chamava a atenção a todo momento. À medida que passamos alguns corixos, o rio foi se afunilando mais, e as moitas de aguapés pareciam impedir nossa subida.

O piloteiro, em alguns lugares teve que acelerar o barco ao máximo, e quando chegava nas moitas de aguapés, levantava o motor e passava sobre as moitas de vegetações. O rio em todo seu percurso é maravilhoso, corre dentro de uma caixa, enfeitado por árvores e flores.

Marcado no mapa em vermelho está o corixo que pescamos. Na entrada tiramos uma fotografia, mostrando na imagem do celular exatamente onde a foto foi tirada, e o trajeto que fizemos no corixo.

Pela imagem dá para ver o corixo que rodamos, e exatamente o lugar da fotografia. Os meandros do Rio Vermelho como podemos observar é impressionante, se contorcendo pela mata galeria. Pela fotografia, podemos observar, que ao longo de centenas de anos, o rio vai alterando seu curso. Lugares que passava se transformavam em corixos, ou lagoas torcidas.

Admiramos o corixo, marcado na fotografia, e entramos para tentar um peixe, rodamos bastante nele, contudo não pegamos nada, apenas víamos os peixes Acaris, agitando as águas em busca de comida.

Desistimos da pescaria e partimos rio a cima, com objetivo de vermos um Ninhal que lá existia e ver o lugar onde o Negro arrombou o barranco.

Quilômetros depois do corixo, o rio foi ficando mais “selvagem”, e mais obstáculos aparecendo, eu me distraí muito, vendo as múltiplas paisagens do rio.

Felizmente minha mulher continuou filmando, e de repente, gritos de alerta do pirangueiro: OLHA A ONÇA!

E Aninha conseguiu filmar perfeitamente uma grande onça pintada, atravessando o rio, vencendo os aguapés da margem, com uma força extraordinária, e em um pulo saltou no barranco. E aos pulos foi sumindo pela mata.

Ficamos por um tempo extasiados com o fato, pois o animal é realmente maravilhoso, sua agilidade, seus movimentos e sua força.

Não consigo colocar a filmagem nesse trabalho, apenas pausei uma fotografia, que ficou muito ruim, deste momento inesquecível no Rio Vermelho. Minha emoção foi tanta que nem tive tempo de pensar em fotografar a pintadona.

Me pareceu que o felino deu apenas alguns pulos e sumiu no mato. Nesta fotografia, tirada da filmagem estamos bem longe da fera. Depois, com calma e silêncio paramos perto do barranco e tentamos ouvir alguma coisa. Mas nada, a mata ficou em absoluto silêncio, e o Uander achou melhor partirmos logo.

A mata galeria em toda região onde vimos a onça é extremamente fechada e bonita, mesmo os mais valentes não vão entrado de qualquer maneira por esta floresta pantaneira. Analisando o mapa do Google Earth podemos ver que a mata, se continua com a Reserva Ecológica do Rio Negro. É uma imensidão de pantanal.

À medida que subíamos o vermelho, as dificuldades aumentavam, haviam ilhas de aguapés flutuantes pelas águas, depois de algumas passagens, tivemos que parar o bloqueio era total. Não daria para nós continuarmos a subida.Foi uma pena pois a natureza estava ficando mais rica em pássaros.

Na volta, uma passagem que piloteiro havia forçado, ficou totalmente obstruída, ele teve que usar uma corda, amarrar na moita, e com a força dos 40 HP, puxa-la para podermos passar.

Não foi muito fácil as moitas eram enormes, e a força do motor tinha que vencer o peso dos aguapés, e a corrente de água, que o próprio motor fazia. Mas passamos depois de desobstruir um pouco os obstáculos.

Quando ocorre temporais nas cabeceiras dos rios moitas de aguapés se soltam, e vão descendo os rios, todos se encontram no rio Paraguai, que ficam entulhados destas plantas aquáticas, que são chamadas de camalotes.

(Um dia que decolei de Assunção no Paraguai, com meu avião, e subi o rio Paraguai, destino Ponta Porã, fiquei impressionado, não havia água apenas era um imenso rio de camalotes, um fato incrível).

Os rios pantaneiros devem muito aos camalotes, pois suas raízes se alimentam das partículas orgânicas e minerais que sujam e poluem as águas. Se não houve essas plantas, o rio Paraguai, em Assunção, que é cortada pelo rio, seria quase inabitável.

Esta imensa árvore na foz do Vermelho, é um exemplo de resistência da natureza. É uma imensa dicotiledônia, uma enorme figueira, com suas fortíssimas raízes tabulares, a maioria já exposta pela erosão, solapada pelas águas. Mas resistem, resistem há muitos anos, que a conheço. As raízes expostas não são funcionais, estão secando, e as do barranco se fortalecendo para suportarem todo o peso.

Depois desta visão, chegamos ao Rio Miranda. Achei uma imensidão de águas, pois haviamos saído das retorcidas águas do Vermelho.

Incrível, nesta hora havia apenas um barco, ancorado. Ficamos animados, vamos rodar e aproveitar. Grande engano, não havia barco, pois não havia peixe.

Aproveitamos e descemos os 20 Km de rio, desviando dos galhos que desciam, mas aproveitando as paisagens, e os lugares que passamos.

No ancoradouro havia grande movimentação, pois quando o rio não é piscoso, a cerveja do porto é a melhor. Grande número de mesinhas ocupadas por companheiros de pesca. Mas o silêncio era grande, ninguém contando prosa. O único e alto som que ouvíamos, eram as dezenas de aracuãs, gritando e saltitando pelas árvores.

Logo depois os pernilongos atacaram, não tivemos jeito, fomos para o quarto, aprontar para a janta.

Depois saímos caminhando pelas passarelas do hotel. Logo à frente do restaurante uma grande árvore iluminada, parecia flutuar no espaço iluminado pela lua cheia. A lua, como um farol distante criava sombras em árvores apagas. O longo canto da ave, mãe da lua, misturava lugares no escuro das sombras.

Fomos para um lugar escuro, para vermos estrelas. Imponente como sempre o Cruzeiro do Sul, se destacava nos céus do Pantanal, era o símbolo do Brasil no espaço. Não é sem motivo que, Vasco da Gama, em carta enviada a Dom Manuel, rei de Portugal, comunicando a descoberta do Brasil, dá enorme ênfase a essa constelação, símbolo do hemisfério sul. A constelação não estava só, ao seu lado direito o planeta Júpiter, marcava a presença. Ao norte celeste, em relação ao Cruzeiro do Sul estão: Mercúrio e Vênus, refletindo a luz do sol, e enfeitando a noite.

Depois de ver estrelas, paramos para meditar um pouco, em tudo que havíamos visto durante aquele dia. Seria um recordar, de paisagens, de plantas e flores, nas águas dos rios. Mas vimos uma fantástica onça, com sua força e ímpeto, atravessando o rio e da água pulando no alto barro.

Antes de entrarmos para dormir despedimos da lua cheia, pois a noite estava maravilhosa e inesquecível.

DIA 20-04-2022, quarta-feira, era nosso último dia. Por garantia, e por sabermos onde estava o peixe, resolvemos voltar, os 108 km até, Aquidauana, Carrapato e pescar na boca do Rio Touro Morto.

O último dia de uma pescaria ou de um passeio é sempre um paradoxo para mim. Não aproveito nunca muito, fico entre a alegria de estar, e a necessidade de partir. O dia passa “morno”, parece que ando caminhando sem sair do lugar, parece que olho tudo, mas sem muito enxergar ou gravar.

Assim subi até o Rio Aquidauana, apenas com expectativas nas curvas, e esperas nas longas retas. É incrível como nossa sensibilidade muda, nessas horas, pois os longos caminhos se alteram, buscando as lembranças, mas aparece que tudo se apagou, na mente ficou o ronco do motor, e a chegada no Morro do Azeite.

Até este ponto marcante do rio, não me lembro de nada. Uma tora muito grande rodava, na curva desse ponto, não imagino como aquela imensa madeira caiu no rio, e deve ter rodando muita distância, o piloteiro teve que reduzir a velocidade para contornar o grande obstáculo, acredito que isso despertou-me da inércia mental.

A água estava bem mais turva que nos dias anteriores, muita sujeira descia o rio. Creio que por esse motivo praticamente não havia barcos de pesca no trajeto. Lembro-me bem que uns quatro urubus-campeiros, em voos rasantes e planados, nos acompanhou por quilômetros antes do Rio Negro.

Paramos na foz do rio Negro, para ver se a água estava mais limpa para tentarmos pegar algum pintado, não estava barrenta, estava boa para a pesca. Observamos uns 50m acima, um bando de urubus fazendo uma festa.

O pirangueiro conhecedor de tudo, falou tem alguma coisa ali. Tocou a canoa, parou no barranco e desceu, andou um pouco e logo voltou dizendo: Tem uma grande capivara morta, e pelo jeito foi uma pintada que a matou. Comeu uma parte e partiu, mas como faz pouco tempo ela ainda deve estar por perto. Certamente a noite ela vai retornar e terminar o banquete.

Rapidinho voltou para o barco, ligou o motor e partimos para o Aquidauana. Saber que uma onça havia caçado uma capivara, foi motivo para eu despertar um pouco mais nas recordações. Pensando na cena de uma pintada, pegando uma grande capivara, fiquei consciente da importância de manter a Reserva Ecológica do Rio Negro, esperando que o arrobado visto pelo Uander, não prejudique muito a ecologia da área.

O rio Aquidauana e Touro Morto, estavam com boa água para pesca, mas não foi somente nós que notamos, as piranhas também. Pegamos muitas piranhas, felizmente isso significa ações em uma pescaria esportiva, o que foi bom também.

A Any deu sorte, pegou um belíssimo pintado, lembro-me de vê-la com muita calma soltá-lo no rio. Logo depois o Huander pegou outro pintado, eu também havia pego um bem pequeno, deu para distrair.

Era chegada a hora, tínhamos que partir, as distâncias da volta eram longas, e o rio cheio de obstáculos, partimos. Não sei, mas senti uma sensação diferente ao deixar a boca do Touro Morto. Senti como se fosse uma despedida.

A volta foi completa de recordações, a fotografia exatamente no lugar da Reserva do Rio Negro onde há anos eu havia visto uma onça, junto com o pirangueiro Tiãozinho. Não sei explicar, mas sobre as águas do rio uma bruma se formava. Como sempre as sombras das grandes árvores, eram refletidas nas águas do rio.

O pirangueiro acelerou o motor e continuamos a descida rapidamente, parecia que tínhamos um horário para a chegada. Será que seria a hora, de arranjarmos toda a tralha de pesca e encerrar a pescaria?

Olhei para este magnífico pé de piúva e senti uma nostalgia muito grande de estar partindo, pois não saberia dizer até quando? E se um dia voltaria, somente Deus saberia a resposta.


Antes do Morro do Azeite tivemos que abastecer o motor. Paramos, eu pedi a Any para tirar esta fotografia, do velho que ali completara 82 anos, tempo maravilhoso de aventuras e pescarias, e com muito companheirismo.

Encerramos a pescaria: gastamos 3.200,00 reais de gasolina, 320 litros. E 500,00 reais de iscas

DIA 21-04-2022, SAÍMOS DO PASSO DO LONTRA COM DESTINO A TRÊS LAGOAS.

Na saída do hotel, depois do café, andamos um pouco pela passarela, para nos despedirmos de tantas aves que há pelas árvores e pelo chão. A algazarra das aracuãs, parecia invadir todo ambiente.

Realmente o que mais nos chamou a atenção foi o barulhento bando de araras azuis, em uma palmeira, bem perto de nós. Parti com muita tristeza, não sei ainda bem o porquê.

O rio Miranda estava mais limpo, os galhos da tempestade haviam passado, uma ligeira brisa agitava as águas, a curva do rio limitava as árvores, por sinal exuberantes e verdes. Já senti saudade na saída.

Tentei ficar alegre despedindo do rio, mas no íntimo, não me lembro, como parti!

Logo pegamos o asfalto, devido ao grande movimento dos grandes caminhões de minério, durante noite, eu creio, haviam muitos animais trucidados na estrada: dois jacarés, capivaras e um tamanduá. Gaviões caracarás e urubus, já faziam filas para o banquete, dos animais mortos..

Paramos no restaurante em Miranda para almoçar, o lugar é muito grande e bom, mas logo que estacionamos um ônibus cheio de soldados, parou também, e aqueles homens, viajados, com certeza, com a fome antiga, fizeram uma grande fila para se servirem. Por mais que os funcionários e o dono se esforçassem, não era fácil manter os alimentos disponíveis.

Tomamos a iniciativa, de sentar e esperar, uns 30 minutos, para as coisas se acalmarem, foi o único jeito.

Logo que saímos na estrada, coloquei o automático a 100Km/h, e fui tranquilo acompanhando o grande movimento de caminhões. Na primeira descida um caro pequeno preto, passou voando por nós em uma descida, vi que estava cheiro de gente.

Oitenta quilômetro a frente, logo antes de Anastácio, vimos a polícia federal parando o trânsito. Quando parei a fila era de uns 500m, mas os caminhões foram chegando, parando um atrás do outro.

Um dos caminhoneiros, foi até lá na frente ver o que estava acontecendo. Depois de 30 minutos a pessoa voltou, trazendo péssimas notícias. Um carrinho preto cheio de gente, bateu de frente com uma jamanta. Haviam duas pessoas mortas incluindo o motorista, por isso a polícia rodoviária não poderia remover os destroços, tinham que esperar a perícia de Campo Grande, a demora era mais de 4 horas.

Bateu a ansiedade em todos, eu fiquei com atenção nos acontecimentos. Derrepente, ao lado direito da estrada começo ver caminhonetes passado por uma estradinha de terra paralela. Um homem passou por nós, dizendo: Lá atrás tem um lugar, que dá para pegar o desvio. Manobrei e fui atrás, cortamos o mato da marginal e chegamos na estradinha de terra. Sorte.

Estou voltando para pegar o desvio, a fila de grandes caminhões é mais que quilométrica. Mas esses grandões não podem pegar o desvio.

Graças a Deus existia essa estrada de desvio, aí vimos que a fila era imensa mesmo.

Esses caminhões estão parados já na cidade de Anastácio. Além da tragédia que é um desastre, olhe o transtorno que ocorre nesses lugares de poucos recursos.

Depois pela imprensa fiquei sabendo que a polícia técnica demorou mais de 4 horas para chegar no local.

Saímos de Anastácio para Campo Grande, aí foi um passeio, não tinham praticamente ninguém na pista, fomos tranquilamente, deu até para fotografarmos um bando de emas na plantação, antes da capital.

Parece que esta imagem, desanuviou a mente, as grandes aves pastando em um senário de paz.

Tivemos que andar bastante, achei por ser 21 de abril que o contorno de C. Grande fosse estar tranquilo, grande erro, mais movimentado do que nunca. Paguei todos meus pecados.

Somente parei em Ribas do Rio Pardo, o céu em fogo chamou muito a atenção, descemos para comer um lanche, e esticar as pernas.

A outra parada foi em Água Clara, no grande posto Pioneiro, Any ficou impressionada com o tamanho desta mesa, é uma escultura imensa, tudo coberto por um vidro, e se transforma em uma mesa.

Com muito cuidado fiz os 130 Km de Água Clara para Três Lagoas, pois a noite a estrada sem acostamento, todo cuidado é pouco, e Any estava muito cansada da viagem.

Pousamos no hotel VILLA ROMANAO PARK HOTEL.

DIA 22-04-2022. Voltamos para Casa.

Saindo da cidade, me despedi dos tuiuiús, Any fez eu dar mais uma volta, na rotatória para uma melhor imagem, e fizemos isso. Mas, sinceramente eu nunca gostei das partidas.

A tela do GPS da S-12 mostrava exatamente onde nós estávamos naquele momento. A esquerda isso é ao norte, a imensa represa de Jupiá. Antigamente a estrada passava sobre a barragem, era problema quando havia muito movimento. No lado direito da tela, isso ao sul desce o volumoso e importante rio Paraná, que será barrado, no limite do estado de São Paulo, pela imensa represa de Sérgio Motta.

No meio da nova ponte rodoviária, foi possível fotografar e velha ponte da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, uma ligação, rodo ferroviária que foi importantíssima por quase um século.

Pegamos a pista dupla da Marechal Rondon, aí fizemos os 300 Km até o rio Tietê. Abastecemos e partimos, Any saiu guiando.

A imagem de minha companheira passando pela represa do Rio Tietê, foi a última imagem de nossa maravilhosa viagem ao Pantanal.

Não me esquecerei da volta do dia 21 de abril 2022.